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Certo dia, com o pensamento pleno em FP (que muitos hão de concordar comigo, dificilmente surgirá outro com semelhante domínio sobre a palavra), considerei a possibilidade de dividir toda a poesia que fiz e ainda puder fazer em pequenos lotes — e em cada um deles empossaria um autor estranho, diverso de mim — de acordo com o tema, o momento, o lugar, as sensações de alegria, tristeza, dor, júbilo e outras tantas, assinando cada lote com um nome.

Entretanto, mesmo sabendo que se hoje escrevi sobre a vida, ontem enalteci a morte e num mesmo momento da semana anterior excomunguei e exaltei a igreja num único texto, resolvi desistir de tal artifício, depois de concluir que na minha poesia sou e serei integralmente sempre eu mesmo, tendo dentro de mim o mundo inteiro e tudo o que há nele, pessoas, desejos, sensações, animais e coisas. Assim, portanto, estarei sempre suscetível a todos os atos, pensamentos e sentimentos que possam existir ou acontecer, o que justifica dizer que, não importa o que eu faça, pense ou sinta, tudo o que escrevo, as pessoas gostando ou abominando, vem de uma única pessoa: eu mesmo.

Outra conclusão a que cheguei é que é inútil, como já tentei, destruir, apagar, sumir com algo que já escrevi pois o já escrito transcende o meio e as bordas do papel.

Outros podem nunca ter lido, mas aquilo que antes sobrevoava minha cabeça e depois anotei na folha permanecerá terminantemente subscrito em mim. Assim como desdizer é mentir, não existe o verbo descrever no sentido de voltar atrás, bem como o despensamento é impossível. E somente a escrita me permite artimanhas involuntárias de ao mesmo tempo ou separadamente ser água e pedra, fogo e cinzas, homem irracional e bicho evoluído, Deus e o Diabo, loucura e sanidade.

Vejo razão em tudo o que escrevo, sou responsável pelo que faço, pelo que digo e pelo que sinto e nunca quis fechar a boca, tapar os olhos e os ouvidos e afirmo que até o sentir é causado pelo que dizemos, pelo que fazemos, pelo que vemos e pelo que escutamos. Afinal, se num determinado momento sou eu eu mesmo, noutro momento sou outro eu ou eu outro, sendo ora uno ora duplo ou múltiplo, imantado por este turbilhão inexplicável de células que é o mundo mas sem nunca perder a raiz, jamais me porei alheio de mim no que escrevo e nada, nunca, justificaria me fazer impessoal e permitir que outros assinem por mim.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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