Porto Novo, capital oficial do Benim, deve o seu nome atual aos portugueses, que aí se estabeleceram no século XVII, com o objetivo de exportar escravos africanos para as Américas.
Tais eram as semelhanças com a cidade do Porto, que a batizaram de Porto Novo.
Ainda hoje é bem visível a presença portuguesa, nas casas e nos monumentos.
Poucas cidades misturam história, arquitetura e beleza natural de uma forma tão inexprimível e surpreendente como esta.
Um senhor que tinha feito a viagem comigo e com um espanhol desde a cidade de Ouidah, ofereceu-se para nos acompanhar até à pousada.
Chamava-se Luc e tinha uma boa apresentação. Vestia um fato beije e um chapéu de palha.
Tal era a simpatia e a boa vontade deste sujeito, que o diagnostiquei como duvidoso e interesseiro.
De motorizada permeámos a caótica e babélica cidade até à pousada.
Só o espanhol iria ficar na pousada, visto que eu tinha voo no dia seguinte para Portugal.
Como o aeroporto de Cotonou fica a uma hora de viagem desde Porto Novo, perguntei na pousada se conseguiam arranjar um táxi para as dez da noite.
A resposta foi “ não”.
Primeiro, é fim de semana, e segundo é muito tarde para os taxistas se deslocarem.
Há alguma apreensão por parte dos condutores, para viajarem de noite.
Luc manifestou imediatamente alguma amabilidade. Tinha um amigo que era taxista, e iria falar com ele. Agradeci imenso toda a disponibilidade.
Talvez me tivesse enganado a respeito dele e ele só quisesse mesmo ajudar.
Almoçámos juntos numa pequena barraca e escutámos atentamente as suas histórias sobre o Benim.
Apesar de toda a simpatia deste fulano, algo não batia certo.
Era casado e tinha um filho. Mas desde a sua chegada à cidade, ainda não tinha visitado a sua família. Já estava connosco há algumas horas.
Ofereceu-se para nos mostrar a cidade. Nós agradecemos, mas rejeitámos a proposta.
Nada melhor para quem gosta de se aventurar no desconhecido do que descobrir por conta própria um local.
Combinámos encontro às oito da noite na pousada e partimos à descoberta desta cidade.
Entre casas coloniais e mesquitas, vagueamos por ruas estreitas, à descoberta do incógnito.
As mulheres usam vestes bastantes coloridas.
Algumas crianças cumprimentam-nos, enquanto outras fogem ou choram de medo.
A simpatia desta povo reside em cada recanto desta cidade, desde as suas modestas avenidas às vielas mais afuniladas.
Alguns autóctones dançam ao som de tambores e djembés.
Sem sombra de dúvida que Porto Novo é uma lisonjeira surpresa.
A língua oficial é o francês, e a cada passo somos saudados com um “bonjour”.
À porta de uma casa estava uma família que nos cumprimentou.
Metem conversa e apontam de imediato para uma rapariga. Ela era bastante simpática e gira. Quis ser fotografada e de seguida pediu uma fotografia comigo.
Minutos depois o irmão já falava para eu casar com ela.
Os familiares sorriam e no meio daquela gente toda estava a mãe da rapariga, toda feliz, consentindo o casamento.
Entre algumas gargalhadas e um estranho mau estar, bastante invulgar da minha parte, descartei-me, dizendo que passava mais tarde.
“Leva-a contigo para Portugal!”, ouvia eu, enquanto me afastava sorrateiramente.
Nalguns países, um ocidental é visto pelos habitantes locais como um passaporte para sair da sua terra natal.
Muitas raparigas querem casar com um estrangeiro, com o intuito de poderem proporcionar uma vida melhor aos seus familiares e a si próprias.
São vinte horas e na pousada aparece Luc, acompanhado do seu filho.
Fomos jantar e o tal amigo taxista apareceu no restaurante, por volta das nove horas.
O espanhol queria ir a uma discoteca, mas eu tinha que me ir embora.
Não tinha qualquer pressa, pois o meu voo era apenas às 6 da manhã, mas o taxista achava um pouco perigoso fazer a viagem de noite.
Luc também me queria acompanhar até ao aeroporto e levou o filho a casa, enquanto esperávamos os três numa esplanada.
Bebíamos cerveja, enquanto nos ríamos de algumas histórias.
Cerveja após cerveja, o condutor também já queria ir à discoteca, e já não se importava nada de fazer a viagem de noite.
Quando dei por mim, estávamos os 4 numa discoteca.
Hora de me ir embora, despeço-me do espanhol.
No caminho, Luc começa a falar da nossa amizade, dizendo que agora eu poderia enviar contentores com viaturas e outros objetos para o Benim, para ele vender e ambos ganharmos muito dinheiro.
Durante uma hora de viagem, falava entusiasmado neste negócio lucrativo.
Com tanto sono, eu apenas dizia que sim.
Pediu-me uma prenda como recordação e eu fiquei pasmado. Não tinha nada para oferecer.
Chego finalmente ao aeroporto e despeço-me dele.
Com algumas horas ainda de espera e com o aeroporto fechado, deito-me em frente ao edifício, acabando por adormecer.
Após algum tempo, um polícia acorda-me e acaba assim esta aventura em solo africano.