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“Jerusalém” de Mia Couto

Opinião

Com a leitura de Jerusalém, entrei no mundo de Mia Couto e dele já não saio mais!!!

É a história de quatro homens (um pai, dois filhos e um capataz), que se refugiam numa antiga coutada de caça, em fuga da cidade e de um passado demasiado presente. É ainda e sobretudo a história de Mwanito, o filho mais novo e narrador da obra, que apenas conhece o mundo de Jerusalém e que nada sabe do que se passa no mundo do “lado de lá” e que sofre por nunca ter conhecido a mãe. São dele as palavras que me conquistaram, logo no início da narrativa – “A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas.” (pág. 13)

Ora não preciso de dizer que, como mulher e como mãe, me rendi de imediato a esta declaração e nunca mais me deixei de sentir cativada pela beleza de tudo o que nos é contado por Mwanito, do princípio ao fim da obra.

O estilo de Mia Couto é belíssimo, poético e tão poderoso que nos faz identificar com tudo o que lemos, inclusive se a realidade da história nos parece um pouco louca e fora do que supostamente é normal!…

Agradeço do fundo do coração ao meu pai por me ter oferecido esta maravilhosa obra de Mia Couto e a possibilidade de assim conhecer uma das vozes mais arrebatadoras do panorama literário da língua portuguesa!

Aqui ficam algumas das passagens que sublinhei:

A escrita me devolvia o rosto perdido de minha mãe.” (pág. 46)

Mulheres são como ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor.” (pág. 60)

Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento.” (pág. 63)

Cada dia é uma folha que tu rasgas, sou o papel que espera pela tua mão, sou a letra que aguarda pelo afago dos teus olhos.” (pág. 138)

Só agora entendi que a sedução mora em outro lugar. Talvez no olhar.” (pág. 144)

Cada um de nós foi uma mentira, mas nós os dois fomos verdade.” (pág. 194)

NOTA – 09/10

Sinopse

Plano Nacional de Leitura

Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo.

 

in http://osabordosmeuslivros.blogspot.pt/

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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