O primeiro Campeonato de Matraquilhos do Centro Histórico do Porto decorreu este sábado no Palácio da Companhia, em plena Rua das Flores, com tantos jogos quanto cervejas emborcadas.
O calor pegajoso que se fez sentir ao longo do dia não comprometeu o ritmo frenético de remates e roletas de guarda-redes oscilantes e atravessados por barras de aço, numa prova que serviu de qualificação para o campeonato nacional da Federação Portuguesa de Matraquilhos e Futebol de Mesa.
“Quando se fala muito da gentrificação, ou seja, de os centros das cidades passarem a ser feitos de hamburguerias ‘gourmet’ e hostéis, [há que] manter isto vivo, em que é tudo vizinhos, lojas e moradores aqui da zona, como sempre se fez nas cidades”, disse à agência Lusa Sérgio Sousa, jornalista da Rádio Nova, um dos parceiros da competição.
A par dos jogos de bilhar e lançamento de dardos – que no Porto, normalmente, se designam “setas” -, os matraquilhos são tão populares quanto levados a sério, algo que para Sérgio Sousa decorre do facto de, “primeiro, haver muitos cafés”.
“É uma forma de as pessoas se encontrarem e arranjarem motivos para discutir. As pessoas discutem sobre se é ou não roleta [rodar os matraquilhos de forma a conferir potência aos remates, uma jogada só permitida aos guarda-redes], ou quem é que mandou a cerveja mini abaixo, mas estes jogos são sobretudo uma oportunidade para conviver”, resumiu Sérgio Sousa.
Proprietário da Escovaria de Belomonte – cuja mulher garante à Lusa ser “a mais antiga da cidade” -, Rui Rodrigues acedeu a uma entrevista pouco depois de perder dois jogos seguidos, por respetivamente 4-2 e 4-1, considerando que “os parceiros jogam muito”.
De acordo com o diretor da escovaria, que nem a 50 metros do certame fica, “o mais importante é os reflexos, que estratégia há pouca, é só marcar”.
“Eu jogo desde miúdo, que à beira de minha casa havia um senhor que tinha matraquilhos e tinha as setas e alugava também bicicletas e, então, era o homem a quem nós mais recorríamos”, disse à Lusa Rui Rodrigues, ainda visivelmente afetado pela adrenalina do jogo.
“Normalmente, eu jogava mais bilhar”, confessou.
Para Sandra Camões, estudante portuense, a paixão pelos matraquilhos veio também “desde pequenina”, algo que a levou a sagrar-se atual campeã da Federação. Esteve presente no campeonato “apenas para uma demonstração” e recomendou à agência Lusa que para jogar bem matraquilhos “é preciso ter uma boa finta, um bom meio-campo e resistência para aguentar o jogo”.
Organizar este primeiro Campeonato de Matraquilhos decorreu, segundo a organização, do ritmo a que “o centro histórico do Porto está a crescer”, de tal forma que as pessoas que lá “vivem, trabalham e passeiam nem têm tempo de se conhecerem”.
“É São João e achámos que nada melhor que uma mesa de matrecos – toda a gente sabe jogar matrecos – para nos conhecermos e convivermos”, explicou Raquel Gomes, da empresa de comunicação, com sede no fundo da rua, que organizou o campeonato.
No campeonato de matraquilhos participaram 20 equipas de três elementos cada (“dois jogadores e um suplente, caso haja algum lesionado”, explicou Raquel Gomes), concorrentes a três prémios oferecidos por várias empresas e casas de comércio tradicional que apoiaram o campeonato.
Seria ainda atribuído o Prémio Bitaites, criado em honra de Hernâni Gonçalves, portuense, antigo preparador físico da seleção portuguesa, do Futebol Clube do Porto e do Boavista, para além de comentador televisivo que pontuava com humor jogos de futebol de ligas de honra e afins.
Os vencedores, anunciados por uma figura de cabeleira postiça, óculos de sol, frango de plástico na mão e do alto de uma cadeira de juiz de ténis, serão, caso tenham pulso, automaticamente apurados para o campeonato nacional a decorrer, de acordo com Ricardo Vieira, vice-presidente da área desportiva da Federação Portuguesa de Matraquilhos e Futebol de Mesa, em dezembro deste ano, “de preferência, também na cidade do Porto”.