vivo no sótão da Lua
cercano de um campanário silencioso
cave soalheira
renda barata
senhorio generoso
generosa também
a paisagem que corre
pela minha vila
afluente do mundo
matéria-prima dos meus passeios
há poucos dias
para conseguir pagar
os meus cantos e contas
tive de penhorar a solidão
da amendoeira que
capitaneia o meu sangue
ontem o meu jantar
repasto à luz de um copo de vinho
foi a “Clepsidra” de Pessanha
sobraram alguns poemas
deram hoje para o almoço
rendimentos não tenho
apenas algumas rendições
sim
ultimamente tenho passado
por imensas dificuldades
sobretudo metafísicas
uma indigência assim
abastada e incandescente
é insustentável
enfim
o que vou perdendo
vai ainda dando para livros
vinho e espantos
dm