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“The social dilemma”

© DR

Quando posso utilizo nas minhas aulas o documentário da Netflix sobre as redes sociais “The social dilemma”. O documentário tem vários defeitos e um tom demasiado dramático, mas acho que tem informação bastante útil. Os intervenientes, ex-engenheira(o)s das redes sociais e investigadora(e)s, declaram um extremo pessimismo sobre os seus efeitos, alguns falam de guerra civil (ainda nem tinha ocorrido o ataque ao Capitólio).

Um dos dados interessantes, e em que penso várias vezes, é a que ponto cada um de entre nós tem uma bolha digital completamente diferente dos outros. Pensamos talvez ver exatamente as mesmas coisas, mas na verdade o algoritmo individualiza a experiência de cada utilizador. Não é por acaso que por vezes não conseguimos compreender os posts/as posições uns dos outros e não é por acaso que há uma verdadeira polarização e radicalização dos debates.

Há uns tempos fiquei desolada quando vi por aqui pessoas de que gostava muito e com as quais me identificava, que lutavam pelas mesmas causas, se enervarem até à rutura. Tenho a certeza de que tal não aconteceria se estivessem face a face. Penso muitas vezes nas amigas/amigos que tive a sorte de conhecer face a face e que sei que se tivesse conhecido unicamente ou primeiro através das redes sociais provavelmente não seria amiga delas, o que seria uma verdadeira perda para mim.

Os meus melhores amigos mais antigos na vida real têm visões do mundo muito diferentes da minha e por vezes temos discussões acesas, sei que se essas discussões fossem nas redes sociais provavelmente causariam danos na nossa amizade. Ao mesmo tempo pude encontrar pessoas que conheci primeiro nas redes sociais, que adorei conhecer na vida real e senti uma verdadeira emoção (elas sabem quem são 😉 ).

A escrita é exercício muito interessante, mas também comporta as suas falhas na comunicação, não se ouve o tom, não se compreende a ironia, ou lê-se enervamento onde até há calma. Por vezes lemos rápido e não compreendemos o que a pessoa quis dizer, por vezes tiramos conclusões precipitadas, por vezes achamos que um post nos é dedicado pessoalmente e sentimo-nos atacados, quando a pessoa se calhar nem nunca reparou em nós porque o algoritmo mostra-lhe mais certas pessoas que outras, por vezes um post é um desabafo do momento e sai assim à bruta e é incompreendido porque não se conhece o contexto em que foi escrito, etc.

Enfim, tudo isto para dizer que tantas vezes o que nos une é bem mais do que o que nos separa e temos a impressão de ser por aqui inimigos para a vida. 😃 A culpa não é nossa, a culpa é do algoritmo. 😃 Também um bocadinho nossa, vá, mas vamos fazer de conta que não é. Vivemos tempos difíceis é normal uma certa exasperação. Abraços sinceros às amigas e amigos que por aqui concordam e discordam.

Luísa Semedo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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