Sucesso da economia portuguesa pode estar nas mãos das Câmaras de Comércio
Empossado como ministro da Economia em abril deste ano, Pedro Reis aponta agora para o futuro financeiro do país e numa intervenção durante o Primeiro Encontro Anual da Rede de Câmaras de Comércio Portuguesas no Mundo (RCCPM), esta quinta-feira, afirmou que este organismo pode ter um papel preponderante no sucesso do crescimento do tecido económico.
Depois de uma entrada muito aplaudida no Salão Nobre da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) em Lisboa, o governante dirigiu-se ao púlpito para dissertar sobre a temática “Sinergias de trabalho entre a RCCPM, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e as Associações empresariais e setoriais”.
A sua primeira mensagem foi, naturalmente, direcionada à RCCPM, que naquela manhã havia reunido a sua primeira Assembleia Geral, elegendo como primeiro presidente Carlos Vinhas Pereira e formalizando o seu estatuto quer a nível associativo, quer jurídico.
Tendo a “profissionalização” como primeira palavra-chave durante o seu discurso, Pedro Reis recordou que “este é um mundo competitivo, um mundo no qual é preciso profissionalizar para depois concretizar”.
E recuperando palavras que Carlos Vinhas Pereira proferira minutos antes, o social-democrata agradeceu o facto de ter sido apelidado de “ministro das empresas”: “É exatamente assim que eu vejo o ministério da Economia, sempre ao lado e ao serviço das empresas. Se nós cuidarmos das empresas, da sua internacionalização e inovação, estamos a cuidar do país, a cuidar quem mais precisa e a estreitar relações”.
Câmaras de Comércio fulcrais para o plano económico do Governo
À plateia, composta maioritariamente por líderes ou representantes das várias câmaras de comércio lusas no mundo (são 64 no total, todas elas membros-fundadores da RCCPM), Pedro Reis garantiu ver estas estruturas como parte fulcral “para aquilo que o Governo se propõe a fazer nos próximos anos para a economia portuguesa”.
Destacando o “know how” de quem está cá fora, as vivências, uma outra perceção, grau de exigência e hábito em encontrar espaço entre forte concorrência, advertiu: “estamos num momento muito especial, estamos em mudanças tectónicas na economia mundial, e vocês sentem certamente isto. O que quer dizer que se abrem oportunidades, mas também desafios raros que eu diria que acontecem numa geração. Como os vulcões, já se sentia o trepidar mas ganharam uma aceleração inesperada. Falo de desafios como a covid-19, as guerras… Quando isso acontece, devemos saber ler rapidamente o que é que isso nos traz de novo e como nos podemos posicionar para poder tirar partido. É isso que a economia portuguesa tem que fazer”.
Próximas décadas marcadas pelos próximos quatro anos
A nível mundial, o ministro com a tutela económica constatou que se “joga um jogo, uma verdadeira corrida por zonas e clusters de competência, nomeadamente em setores como a mobilidade, a energia, a saúde, a logística, a defesa, a reindustrialização e toda a área da digitalização”.
No seu entender, no futuro próximo “cada uma das economias vai posicionar-se para apostar em investir e gerar talento que permita enraizar para as próximas décadas”. “Estou mesmo convencido que o que acontecer nos próximos três ou quatro anos vai marcar os próximos 20”, completou.
“Porque é que Portugal não cresce mais?”
Evitando interpretações subjetivas na esfera político e referindo-se particularmente “aos últimos anos”, o ministro da Economia questionou: “Porque é que Portugal não consegue crescer mais?”. Na resposta, mencionou a elevada burocracia do país e as taxas fiscais: “O atual executivo está atacar na fiscalidade. É impossível que as famílias respirem sem alívio fiscal. Se as famílias portuguesas fossem um carro, seriam um carro com um pedregulho em cima, que é a fiscalidade a não deixar avançar. E uma rocha à frente, que é a burocracia. O que é que acontece se não tirarmos estas pedras? Se as pessoas puderem saltar para outro carro (economia), saltam. E mesmo que haja mais algum espaço para acelerar, tendem a ir por outra estrada (outros mercados). Temos que resolver”.
Além da desburocratização e da redução de impostos, passa pela estratégia do ministro da Economia aumentar o nível de competitividade das infraestruturas portuguesas, mencionando o lançamento do “programa Infraestruturas Estratégicas”, que, garantiu, “vai mesmo acontecer”.
Olhando para o país como “uma plataforma giratória”, Pedro Reis disse-se também focado nas oportunidades trazidas pelo PRR, pelo PT2030, pelas agendas mobilizadoras e pelos projetos estratégicos. “Se fizermos tudo isso, captamos e retemos mais talento”, atirou.
“O país não pode esperar mais”
Aludindo à sua passagem entre 2011 e 2014 como presidente da AICEP, Pedro Reis avisou ainda que “têm que ser as estruturas e não só as empresas a puxar pela economia do país”. “O Estado tem que nivelar a qualidade e o grau de exigência. Como tal, devemos articular tudo o que nós temos, funcionar em sistema. Estamos a apostar em refrescar as instituições dentro da tutela do ministério da Economia. É o caso do Banco de Fomento, da AICEP, do IAPMEI, do Turismo de Portugal e da AMI. Todos, em simultâneo, têm que estar à disposição das empresas”, rematou.