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Sucedâneos

Todos os meus sonhos reduzidos a sucedâneos
tétricos títeres deste meu fadário
votos de um quotidiano sinos rebatem
os idos que se vão e o céu em fogo
nunca devia apaixonar-se.

Tecto-harmonia da minha paisagem
interior permanente
cantos de índio como promessas
de um ouro invisível
partilho as águas que escorrem
pelas paredes do mundo.

Negros os meus preferidos
mas vermelhos sem hesitar
ágeis suaves tangam melodias
e silhuetas de dançarinas nos meus cabelos.

E o pião girando sobre si
e à minha volta, o cordel original
perdido nas mãos de um ser disforme
mas nunca suprimir dos meus olhos
a vontade de acreditar.

Loira sem fé
e o meu esforço vão sem idade
no subtil momento de uma estrela
doces noites dedicadas
esperando quem nunca veio
inofensivas vidas
em ósculos displicentes e sem raiva
palavras que me chegam de todo o lado
e de lado nenhum.

Diários nefastos de sémens
que se perderam em goelas de mancebos
quero também eu escrever a tua vida
para aprender o meu papel
largo amarras do meu cais
como uma criança arredada de seus pais
mergulho sem seguir o meu instinto
no antro da Górgona
uma noite sem esperanças de sair salvo
com medo apenas de não ser eu próprio
o papel de andante já não me convém
é apenas mirra, ouro, marfim que já ofertei
cálice com o qual já me inebriei
utopia que já não almejo mais.

O que procuro neste deserto
nesta terra infiel,
o que procuro neste jardim
de rosas transperçadas
por que trilho desventurado
me levam agora os meus passos
que outra embuscada me espera
na curva deste caminho ignoto
porque me atrai esta luz mórbida
como um insecto a chama que o fulmina
o que me seduz nestes segredos vis?

Sucedâneos, tristes e lamentáveis sucedâneos
do que ainda não desisti de encontrar.

JLC2002

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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