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Sobre o movimento

Oliver Holmes said: The great thing in this world is not so much where we stand,

as in what direction we are moving.

Tropecei nesta frase há uns dias e lembrei-me de um carro em movimento. Lembrei-me da mudança de perspetiva, de como as árvores ganham vida quando me desloco e as olho pela janela.

Mudei-me para Washington DC há um mês e duas semanas. Não estava muito curiosa…queria ter viajado para o Oriente. Mas o primeiro passo para sair da zona de conforto e abraçar o desconhecido é contrariar a vontade. E a melhor parte da falta de vontade é a ausência de expectativa.

Mas vamos ao que importa: os meus primeiros dias foram estranhos. Houve tempo para dúvidas, incertezas, anseios. Faltou-me casa, faltou-me mar, areia nos pés e talvez um sumo de laranja e cenoura do ruínas. Mas o tempo flui, as ruas – tão gigantes no início – começaram a tornar-se à minha medida. Os rostos passaram a ser familiares, as gargalhadas livres de preconceito.

Uma vez li algures que todos começamos como estranhos, não sabemos até onde podemos ir mas vamos andando. E eu fui andando e não posso mentir: às vezes saio de casa, sinto o vento e associo aquela força fresca à minha praia num qualquer dia de Agosto. Não consigo contar as vezes em que já disse para mim mesma “cheira a Primavera como Moledo quando se enche de maias”. Não é da saudade! É do conforto, é da memória, é do coração. É da árvore que ficou para trás enquanto eu seguia à velocidade que escolhi.

Às vezes tenho uma certa sensação de claustrofobia. Quero molhar os pés, quem sabe mergulhar bem fundo – deixa-me os ouvidos tapados mas liberta-me a energia e faz-me perceber quão bom é voltar à superfície. Mas tenho-me aguentado bem, tenho observado, tenho procurado, tenho dormido pouco e vivido muito.

Já me cruzei com imensas pessoas, já revi rostos. É possível imaginar? Cruzar-me com um estranho numa cidade gigantesca e pensar “já o vi antes”. É curioso, tudo é curioso. Tenho tanto para descobrir, tanto por onde caminhar.

Mas percebo agora que o movimento é realmente essencial. É necessário seguir em frente para tomar decisões, arrumar gavetas e enriquecer o corpo e a alma. É necessário analisar a velocidade dos objetos fixos (perdoem-me a redundância, mas subjetivamente o sentido está aqui) para perceber qual o ritmo com o qual nos podemos sincronizar. E eu estava parada, como em outras circunstâncias da minha vida. Eu – que anseio sempre por voar – estava presa ao chão.

Agora que me libertei percebo que o que mais me fascina – tanto na vida como na viagem – é o percurso.

À meta qualquer um de nós pode chegar mas entender, colocar os pés no chão e seguir o percurso sem conhecer o destino, é algo mais elaborado.

E é não saber para onde vou que me alucina e me faz querer continuar.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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