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“Só quem está fora percebe o quão bom é o SNS português”

© Ricardo Silva / BOM DIA

Alberto Caldas Afonso, pediatra, professor, membro da Ordem dos Médicos e diretor do Centro Materno-Infantil do Norte, a maior maternidade do sistema público português, reconheceu na conferência Portugal+ Londres, este fim de semana, as debilidades do Sistema Nacional de Saúde luso mas defendeu que só quem está cá fora percebe “o quão bom é o SNS” quando comparado ao de outros países.

A intervenção do clínico antecedeu o painel “A emigração da saúde e a saúde dos emigrantes”, do qual também fez parte, e centrou-se particularmente em duas das maiores problemáticas que o sistema de saúde público português enfrenta hoje em dia: a crise nas urgências de Pediatria e Obstetrícia, e a falta de médicos neste setor que acredita que se deve, entre outros, a fenómenos como o crescimento do “turismo da Saúde”, à saída de muitos profissionais rumo à diáspora e à pirâmide etária envelhecida dos médicos que continuam no SNS, muitos deles com idade igual ou superior a 55 anos, faixa que lhes permite deixar de entrar nas escalas dos serviços de urgência por opção própria.

Há mais de duas décadas ligado à Ordem dos Médicos e há 15 como membro do Conselho Nacional, Caldas Afonso recordou que no início da presente Legislatura foi convidado pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para integrar a equipa responsável pela elaboração do Plano de Emergência prometido pelo atual primeiro-ministro Luís Montenegro, cujo objetivo era “identificar os principais problemas do SNS e entre os quais um dos eixos era na área materno-infantil”.

Mesmo considerando que a última década trouxe novos desafios à Saúde em Portugal, Caldas Afonso recordou que “independentemente de tudo, os patamares de qualidade colocam o país como o 12.º melhor do mundo” em termos de serviço público, o que tem feito com que cada vez mais estrangeiros escolham Portugal “para passar a fase final do seu ciclo de vida”. Esta ranking sustenta a opinião do especialista de que “só quem está cá fora percebe o quão bom é o SNS [quando comparado aos sistemas de outros países]”.

Qualidade do SNS atrai cada vez mais estrangeiros

“Portugal é um país que dá assistência, que não olha a cores de pele, convicções religiosas ou políticas, de tal maneira que já se diz em várias partes do mundo que se se quer ‘nascer’ com qualidade, segurança e sem gastar dinheiro, deve ir-se para Portugal”, assegura. Na maternidade que dirige diz ser comum a chegada “de senhoras estrangeiras quase em período expulsivo para ter lá o parto”.

Olhando cá para fora, esta mesma “task force” responsável pelo Plano de Emergência constatou também que havia cidadãos portugueses a necessitar de intervenção cirúrgica e que enfrentavam listas de espera cujas previsões excediam o tempo de segurança recomendado para tratamento: “Nós não podíamos permitir que houvesse sequer um português com uma patologia oncológica com indicação cirúrgica que não fosse operado dentro do timing que está estipulado de segurança. E portanto conseguiu-se identificar todos esses portugueses e em três meses foram todos operados dentro do SNS”, exemplificou.

A “luta” entre o serviço público e o privado já não é de agora, mas para quem descredibiliza o Serviço Nacional de Saúde o diretor do Centro Materno-Infantil do Norte deixa uma mensagem: “Falava-se muito que se estava a promover o sistema privado, mas o SNS é seguramente a maior conquista que os portugueses têm. Todos os dias são vistos em Portugal 150 mil utentes nas 900 portas abertas no país associadas ao SNS e costumo dizer que nenhum de nós é suficientemente rico para não precisar de utilizar o SNS. Quando as situações são de alguma complexidade, a resposta está no SNS. Por isso, é uma obrigação de todos nós fazer com que ele se mantenha robusto e com a qualidade que todos necessitamos”, frisou.

A trabalhar sobre a temática da saúde materno-infantil e o dossier dos frequentes encerramentos nos serviços de urgência de Pediatria e Obstetrícia, Caldas Afonso diagnostica uma assimetria a nível nacional, estando o Norte em relativa “paz”, ao contrário de Lisboa e Vale do Tejo, Setúbal e Oeste, as regiões mais afetadas. São, no total, 760 os obstetras sob contrato no SNS atualmente, número que considera insuficiente.

Para fazer face a esta escassez, a Ordem dos Médicos está a tentar, garante, “fazer os possíveis para que os médicos que se formam em Portugal fiquem no país” e “receber da melhor forma aqueles que querem ir para Portugal”.

Estando em Londres, Caldas Afonso deixou ainda a garantia de que a OM está a tentar desburocratizar a carga dos médicos portugueses ou europeus que querem ir trabalhar para Portugal mas que se formaram fora da União Europeia, como é o caso de alguns jovens formados no Reino Unido pós-Brexit.

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