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Sentindo a Páscoa

Se pudéssemos criar, em uma escala, datas comemorativas como Páscoa e Natal estariam em altos picos, maiores do que os que pisei na China e me deixaram bastante reflexiva e observadora.

Nunca liguei para receber objetos caros, nem mesmo quando criança. Eu que dava valor a eles, ao marcarem minha infância, vida, e onde reconheci parte de minha vocação e/ou personalidade. Gostava mesmo era de ser lembrada numa “tralha”, como diz minha mãe. Gosto mesmo é de ser surpreendida com bobagens. “Ah, fui ali e vi isso, era seu, era você”.

Adorava ir à casa da vovó e usar embalagens de creme de cabelo, caixas, coisas que originalmente não era brinquedos, que eu desconhecia, e lhes dar novo sentido ou o mesmo, mas era O meu sentido. Dificilmente gosto de algo pronto, das respostas, das aulas explicadinhas. Lembro da aula misteriosa que tive de MMC e MDC na Matemática da quarta série, com pausa para o recreio e a professora falou, de forma tão simples, sem muito dizer e fomos desafiados. Mal podia esperar pelo retorno à minha carteira e saber mais sobre. Lembro do quadro, da página do meu caderno e de minha dor ao ouvir soar o sinal.

Preciso do movimento interno, agitar minhas moléculas, criar novas pontes sinápticas. Não sei bem o que me deixou assim, mas é como me sinto.

Gosto do valor das datas como Natal e Páscoa, mas não do valor do mercado. Temos quatro dias de comércio fechado, igualmente ao Natal, aqui na Alemanha, e nos organizamos para não faltar comida, um detalhe, até porque não tem como ser corrigido de última hora.

Li uma vez que a possibilidade de conserto sempre, estraga nossa sociedade. Parece fazer sentido. Se posso sempre postar, escrever, reescrever, editar e deletar, editar, sem aparentes grandes danos/prejuízos, pra que me planejar tanto se vou magoar o outro ou não? Passamos ao automático na vida, assim como no imediatismo das máquinas. Pra que uma lista completa e criteriosa, se sempre posso, às 22h, do dia da Ceia de Natal, comprar aquele presente do fulano, que eu nem tinha certeza de que iria, mas, agora fica “chato”, não dar nada. Talvez isso se reflita em nosso confuso mercado, mas ficará para outro post.

Dei chocolate às filhas de amigos, mas em caso muito específico. Por saber que adoram x chocolate, querer agradar [ a caixa era com um pato tentando se passar por coelho, para não perder o emprego – uma boa piada, pensei ]. Na mãe, dei um longo abraço e isso foi imenso. Tenho duas amigas aqui cujo abraço é como o mundo. E não preciso ser o ter nada demais para isso. Na verdade, elas são tão imensas que transbordam coisa boa. Não poderia ter recebido algo melhor.

Na Alemanha, não existe ovo de Páscoa. Não dos pesquisados por nós, no Brasil, em uma conta e mágicas regrinhas de 3, em que calculamos peso x número [ tamanho ] x preço, pra ver se vale a pena, se cabe no bolso, se compra o amor, a admiração do outro. Nós que fazemos a caça aos ovos, não os pequenos, nessa loucura de mercado, copiada dos americanos.

Aqui só tem os ovinhos coloridos, ou super pequenos, embrulhados com papel alumínio, das marcas disponíveis o ano todo. Ou, o outro sucesso, além dos ovinhos do tamanho do meu polegar, seriam os coelhos ocos, igualmente embalados em papel alumínio.

“Nossa, que pobrinho!”, ouvi de conhecidos. Sim. E eu esperando um: “Maravilhoso, não?”. É apenas um agrado, a festa mesmo, a quem desejar, é colocar uma guirlanda na porta, caminhos de pegadas do coelho e os ovinhos cozinhos, [ de galinha mesmo ], coloridos. E esses ovos são vendidos o ano todo e, nem por isso, a atmosfera do evento se perde. Não vejo as luzes das lojas serem prejudicadas por um teto de chocolates, pessoas se batendo para pegar o último. Ou postando a felicidade de uma árvore de Natal ou mar de ovos nas mídias sociais daqui. Amor é amor, propaganda é outra coisa.

Ouvi ainda que “se eu não der o ovo da fulana, ela morre”. Morre não. A geração Y, que tanto criticou seus pais, como toda geração faz, não está conseguindo lidar com suas próprias angústias, limitações. Imagine ter dinheiro e não mostrar ao meu filho que posso tudo que ele me “manda”. Eles não pedem mais, nos governa, tenho observado. Ou não ter grana e se sentir derrotado na mídias sociais e na visão de seus pequenos. Aprendemos na academia o valor da educação, do respeito, da sustentabilidade, do… Uma lista extensa. Mas, aplicamos isso no mundo real? Percebemos onde estamos nos metendo?

Tive muitos brinquedos, mas, igualmente, muita espera por eles e não tive dos caros, da moda. Senti falta de ter livrinhos coloridos na infância, com gravuras, mas, tive gibis, li os livros da minha mãe e isso foi muito bom. Eu adorava a forma como eles, os adultos, formulavam frases bonitas e não sabiam lidar com pequenas coisas. De vez eu quando eu chegava na sala e soltava um: “mas, gente, não era só fazer…”. Em completava com algo que eu identificava. A forma como eles pensavam me interessava. Ainda me interessa, apesar do meu horizonte, a cada centímetro que eu crescia, fosse mudando. E, que bom, hoje isso é o que mais me move.

O desejo de Feliz Páscoa hoje vem com um “alerta da fiscal da Páscoa”, para pausarmos uns instantes e refletir sobre o que e como estamos fazendo. Não precisamos de mais coisas. Precisamos do sentimento, do ouvido, da presença [ que mais do que nunca vejo que não é a geográfica que mais conta, não mesmo ].

Meus presentes de Páscoa, eu mesma me dei, praticamente. Fui a biblioteca e peguei 5 livros maravilhosos para o feriadão e ganhei um coelho de uma conhecida, desses de chocolate e o outro era um pão em forma de coelho, com olhos de maçã açucarada. Não esperava receber algo e, menos ainda, encontrar o livro que ansiei comprar. Agora posso pegá-lo, sempre que sentir saudade e devolver, para que outros, assim como eum possam se encher de coisas boas.

Então, feliz tudo. <3

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