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Seguimos avante?

Sou a favor do progresso e muitos olharão para estas palavras como uma afirmação partidária: redondamente se enganarão. Provavelmente, já me poderão ter ouvido afirmar que confio em ideias, acções e pessoas que creio que as poderão concretizar com sucesso.

Acredito na igualdade e num Mundo no qual todas as vozes possam ser escutadas e todas as oportunidades possam ser igualmente distribuídas. Portanto, abstenham-se – por favor -, de qualquer julgamento político: esta é, sem dúvida, a porta errada para tal.

A Festa do Avante tem início previsto para 4 de Setembro e prolongar-se-á até ao dia 6 de Setembro: de 2020. Sim, 2020. Realço o ano pois, como todos sabemos reconhecer, tem sido um intervalo de tempo atípico (aguardaremos os próximos episódios pois ainda restam uns meses pela frente e uma vacina na calha pela qual tantos anseiam).

Contudo, tal como o nome indica, uma festa não se faz sem pessoas, sem música, sem movimento – arrisco-me, inclusivamente, a dizer que tampouco abdica de toque e empatia. E num ano em que festas e festivais foram, de forma generalizada, cancelados – e em que milhares ficaram sem qualquer tipo de rendimento nos únicos meses nos quais poderiam ganhar fôlego para o resto do ano -, custa-me crer que uma celebração que se diz – de momento -, primordial no que consente à defesa da classe trabalhadora, se realize nos moldes que temos conhecido através dos meios de comunicação social.

Nada contra o Avante em si: acho muito bem que existam espaços onde pessoas com os mesmos ideais, lutas e objetivos possam confraternizar e avançar com soluções concretas que, acima de tudo, tenham em visto a proteção dos mais desfavorecidos. Parece-me, contudo, idílico, que num ano em que tantos outros espaços com vista a essa reflexão tenham sido adiados para preservação da saúde pública (e já não menciono o grupo do acordeão, o vendedor de farturas, o proprietário dos carrinhos de choque ou os organizadores de um Alive, Paredes de Coura etc.), se siga avante com algo que nos demonstra que, realmente, não ocupamos todos o mesmo espaço em sociedade. Se um Avante é prioridade, também um sem número de eventos importantíssimos no que consente aos oceanos, às alterações climáticas, aos direitos humanos, às novas tecnologias, deveriam ter data marcada.

Creio que sim: o Avante deve decorrer para que não nos esqueçamos desse movimento crucial que é a luta por uma sociedade onde direitos e deveres persistem em equilíbrio. Mas também creio que, tal como tantos outros, um Avante deveria ser suficientemente criativo, facetado, e seguir a única forma verbal que sobrou a tantos: reinventar.

Lamento que assim não seja e lamento, profundamente, que tantos outros não tenham tido a oportunidade de trabalhar mais de perto com a Direção Geral de Saúde para ver os seus negócios, projetos e ambições avançar. Talvez virtualmente todos tivéssemos a oportunidade de compreender melhor a premissa e, possivelmente, colaborar para que, especialmente nos próximos tempos, chefias e trabalhadores caminhem na mesma direção.

Ate lá, escutemos o ruído, seguremos a cultura, torçamos por um Mundo melhor: especialmente um Mundo no qual todos caibam dentro das mesmas regras, dentro das mesmas condições. Aos estrangulados pelas atuais: mantenham-se firmes. Não nos esquecemos de Vós. Talvez sejamos apenas, e ainda, demasiado pequenos para compreender que – como afirmei no meu último artigo -, “juntos, possivelmente, chegaremos sempre mais tarde. Mas chegaremos mais longe, mais unidos, mais conscientes”. Seguimos avante.

Inês Silva Araújo

(artigo originalmente publicado no jornal Terra Mar)

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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