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Reino Unido expulsa cidadãos da União Europeia

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Cerca de uma dúzia de cidadãos de países da União Europeia foram detidos na semana passada em centros de expulsão de imigrantes após desembarcar em aeroportos do Reino Unido, vítimas da política “ambiente hostil” por parte dos funcionários da polícia e dos serviços de migração. A maioria foram mulheres.

Os relatos de algumas vítimas ao jornal britânico The Guardian, citado pela RTP, denunciando o sucedido, indicam que os seus casos são apenas a ponta do icebergue.

Na base das detenções e expulsões aparenta estar uma interpretação errada da nova legislação pós Brexit para imigrantes laborais, apesar de alguns ativistas acusarem o Governo de estar a impor aos europeus, propositadamente, uma política geral de hostilidade para com os migrantes.

Foram detidos e expulsos cidadãos italianos, gregos, espanhóis e búlgaros, sem visto de trabalho apesar de terem entrevistas de emprego agendadas. Não há registo de portugueses terem sido vítimas da mesma situação.

O Ministério britânico da Administração Interna, o Home Office, garante contudo explicitamente que visitantes nestas condições podem “ir a reuniões, conferências, seminários, entrevistas” e “negociar e assinar acordos e contratos”, referem fontes contactadas pelo The Guardian.

Eugenia, uma espanhola detida por 24 horas no aeroporto de Gatwick, Inglaterra, antes de ser expulsa, contou ao jornal britânico que ficou presa numa sala com vários outros europeus, incluindo italianos, portugueses e pessoas com passaporte de países do leste da União Europeia.Os cidadãos da UE totalizavam metade dos migrantes ali detidos, referiu, ainda em choque com algumas das atitudes que presenciou e de que foi vítima.

Uma rapariga de nacionalidade checa chegou num avião oriundo do México e foi obrigada a regressar à origem, mesmo depois de se oferecer para pagar um voo para a República Checa, contou.

O The Guardian mencionou ainda o caso de um cidadão francês detido no aeroporto de Edinburgo por 48 horas e o embaixador da Bulgária no Reino Unido confirmou ao jornal que vários cidadãos do seu país foram igualmente detidos nos centros de expulsão de imigrantes.

Marin Raykov disse que o seu consulado teve de lidar com “vários casos, quando não foi possível fretar um voo no prazo de 24 horas após a chegada”. “Vários cidadãos búlgaros foram detidos num centro de remoção de emigrantes” revelou.

O Ministério do Interior tem afirmado que a legislação é clara e que pode ser facilmente consultada online. “Exigimos prova do direito de um indivíduo viver e trabalhar no Reino Unido”, disse um porta-voz ministerial ao The Guardian.

Luke Piper, um antigo solicitador de imigração que agora trabalha para o grupo ativista 3million que acompanha o tratamento pós-Brexit dos cidadãos europeus no Reino Unido, afirmou ao The Guardian que as novas regras são confusas e acusou a polícia fronteiriça de agressividade gratuita. “Não há nenhuma necessidade de enviar alguém para Yarl’s Wood se podem ficar com a família até à expulsão”, reagiu.

A Comissão Europeia disse que até agora “só um pequeno número de cidadãos europeus parece ter sido afetado” mas referiu que está a acompanhar a situação, tal como os responsáveis espanhóis. Uma porta-voz da Comissão reconheceu a existência de preocupações quanto às “condições e duração da retenção”.

Para os ativistas o problema é muito mais grave. A advogada Araniya Kogulathas, da ONG Fiança para os Imigrantes Detidos, considera que os cidadãos europeus começam a experimentar em primeira mão a política de “ambiente hostil” britânica quanto à imigração.

Oito eurodeputados escreveram à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a expressar preocupação com o que consideram violação do “espírito” do acordo do Brexit.

“Enviar jovens cidadãos europeus para centros de detenção de imigrantes é extremamente desproporcionado e viola o espírito de boa cooperação que deveríamos esperar”, explicou Dacion Ciolos, presidente do grupo de eurodeputados Renew Europe.

Em resposta, o porta-voz oficial do primeiro-ministro Boris Johnson comentou que “estamos a cooperar muito dentro do espírito e dos termos dos acordos que temos com a União Europeia”.

 

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