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Quem sou?

Pensas que sabes quem eu sou. Pensas que me podes julgar pelo que em mim vês. Mas do que sabes, não sabes absolutamente nada de mim.

Sou aquela música que acabou agora mesmo de tocar na rádio. Sou a memória que ela me veio entregar de uma distância entre o homem que sou e o adolescente que fui, e aquele domingo que ainda lhe consigo sentir o aroma, emanado por um calor que espalhava pelo ar o perfume das árvores, do verde carregado da relva e da dor que a esse dia em particular está associada esta memória que a música que a rádio tocou, me veio trazer.

Sou aquele lugar por onde se passeia o meu pensamento em dias de maior nostalgia e solidão. Sou as minhas origens, e sou esse mesmo lugar que sempre me puxa aos dias de quando criança, jovem, adolescente, se espalhou a essência do que fui, porque essa essência que ficou a pairar nesse tempo longínquo é o que hoje sou.

Sou a dor que se esconde por detrás de um sorriso disfarçado, sou as lágrimas que não queria brotar.

Sou o olhar melancólico e perdido daquela criança petrificada, vítima de maldades que não consegue compreender.

Sou o olhar dos inconformados e que sofrem em silêncio. Sou a voz abafada, presa na sua revolta porque às vezes não vale a pena gritar se nos ouvem, mas não nos entendem…

Sou por vezes o medo de ter esperança.

Sou as minhas origens e delas o ponto de partida na minha caminhada exaustante pela vida.

Sou a ovelha no rebanho de Deus sem saber como ser digno de pertencer a esse mesmo rebanho, apesar dos esforços continuados.

Sou um pouco de que vês e do muito que não enxergas (…)

(Retalhos do quotidiano)
António Magalhães

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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