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Poros e Pénia

Prometi ao Raul Reis, o editor deste jornal, que não iria escrever sobre a praga que se abate sobre a Europa. Prometi escrever sobre o mundo – o meu, que se entenda, e o que ele tem de bom. Afinal, há tanta, mas tanta coisa boa entre nós, o mundo e o resto (seja lá isso o que for, conforme cada um acreditar).

Somos corpos entre corpos. Que sentem e desejam. Somos gente. Seres animais e racionais. Somos, tendencialmente, bons. Somos natureza e ilusão. Somos Poros e Pénia. Somos Vida e Indigência. Somos descalços sem chão. Somos criação e esperança. Somos o cheiro da terra molhada. Um sorriso que nem as hienas conseguem imitar.

Mas, voltando a Poros e Pénia, vou começar a história pelo seu início (perdoem-me a redundância). Compreenderá o leitor que irei subtrair pormenores, pois as histórias querem-se curtas para não cansar a alma (aliás, só um génio consegue escrever as Mil e Uma Noites e garantir leitores). Então, foi mais ou menos assim: numa noite em que as estrelas estavam penduradas no céu, sob autorização do firmamento, festejava-se no Olimpo (a moradia dos doze deuses) o nascimento de Afrodite. A festa, a alegria e a felicidade eram comemoradas como nunca entre os deuses. Mas – há sempre um “mas” em todas as festas – os deuses também cometem excessos. A embriaguez tomou-lhes conta do discernimento e, espalhados pelo chão, curavam os custos da oferta de Diónisos, mais conhecido por Baco, o Deus do Vinho.

Poros, filho de Prudência, afastou-se de todos e foi descansar junto ao Jardim de Zeus. Lá perto, estava Pénia, uma vagabunda que se aproximou de Poros e o seduziu. Desta relação, entre um deus e uma humana, nasceu Eros, o Deus do Amor. Eros representa a união da riqueza e da pobreza, da divindade e da humanidade. Ele tanto tem de racional como de animal, de divino como de corpóreo. Foi gerado no dia em que nasceu Afrodite, a deusa da Beleza. Assim, Eros – o Amor-, não morre nem vive para sempre, ele aparece e esconde-se no mundo celeste e na natureza, herança que ganhou da abundância paterna e da pobreza da mãe.

Poros representa a riqueza e capacidade de respirar. Ele é deus no Amor. Mas é por Pénia, a indigência, que sentimos a falta. A falta de sentir os pés descalços e o cheiro da terra molhada. É por ela que sentimos, desejamos e abraçamos. Poros e Pénia são a comunhão entre o mundano e o que, acredito eu, seja a possibilidade do divino em cada ser humano, isto é, Eros. O amor incondicional e distraído que temos à Vida.

Não sei se a história é verdadeira, mas sei que me conforta a ideia de Deus em mim.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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