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Onde está a mentira?

“Põe a máscara, e direi quem és…”

Monique Augras, Psicóloga

No silêncio do meu gabinete, na profundidade de cada consulta, analiso no meu cliente as palavras, os gestos, o que ouço e o que sinto que ele não diz. A pessoa entra sedenta de descobrir a verdade, à procura de que tudo seja posto a nu, sem mantos, sem tabus e sem piedade. É neste contexto que surge a máscara da duplicidade.

Lembro-me de um caso que tratei há cerca de 6 anos pois exemplifica perfeitamente um tema que tantas emoções, ações e reações gera: a mentira.

A consulta centrava-se, como na maioria das vezes, na necessidade de trazer à superfície a verdade. Um homem com cerca de 40 anos questionava a sua relação amorosa que durava há já quase 2 décadas, mas que naquele momento lhe causava angústia e tristeza. Achava que estava a ser vítima de mentiras e que a sua parceira se afastava gradualmente.

Após algum tempo de diálogo, chegámos à conclusão de que as mentiras eram um facto. O cliente estava certo de tudo o que me contava e percebi que apenas precisava de alguém que lhe confirmasse o que já sabia. Não estava a inventar a sua própria história. No entanto, nos momentos finais da consulta, a pessoa que antes vinha à procura da confirmação daquilo que sabia ser verdade, acabou por negá-la. Era demasiado difícil enfrentar os factos agora que eles tinham sido verbalizados e confirmados.

São muitas as razões que levam as pessoas a mentir. Muitas vezes focamo-nos apenas nas explicações maliciosas como a manipulação, ganância ou ofensa. Mas existem também razões que, apesar de não conterem malícia, geram negatividade na nossa vida. São, por exemplo, as vezes em que mentimos por medo, para proteger alguém, ou para nos defendermos da verdade.

Volto então ao caso de há seis anos atrás. Independentemente das mentiras da sua companheira, no momento final da consulta o cliente rejeita a verdade que outrora desejava confirmar. A mentira muda de lado! Quem mente mais?

Ela mente pois quer protegê-lo de uma verdade que o vai magoar: o amor deles acabou.

Ele mente a si próprio, pois prefere viver num mundo falso, transformando a sua vida numa fantasia e recusando a realidade.

Desta maneira, o cliente passa a cúmplice da mentira da sua parceira.

Felizmente esta história acabou bem. Após alguns tratamentos no Lado Violeta, o cliente conseguiu encontrar-se com ele próprio e entender que a mentira tem 2 lados e que, consequentemente, a verdade também.

Aceitar a verdade, por muito difícil que seja, é libertador.

Cristina Gomes

Lado Violeta

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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