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Odeith, o grafitter português que faz os desenhos saltarem da parede

Bem sabem que adoro arte… várias formas de arte, particularmente a que for mais “fora da caixa”. Por isso, venho hoje falar-vos de Odeith. Não só porque admiro o seu trabalho, mas por o mesmo poder agora ser contemplado até dia 24 de Novembro. Isto porque dos murais para as telas, Odeith realiza a sua primeira exposição a solo. Este artista que sempre se dedicou à rua expõe agora os seus quadros na Amadora, na Galeria Municipal Artur Bual.

É verdade, um dos mais reconhecidos artistas urbanos portugueses trocou a grande escala das paredes urbanas pelas telas. Os quadros mostram uma outra faceta do artista que sempre esteve envolvido no mundo do graffiti e deixou a sua marca em vários murais espalhados pelo país e pelo mundo. Na exposição “Escala 10:1”, podemos apreciar os novos quadros do artista, mas também obras antigas suas que nunca vieram a público.

Porém, quem é este artista que decidiu dedicar-se ao trabalho em estúdio e às quatro paredes de uma galeria, mas que sempre esteve imbuído da vibração das ruas? Sérgio Odeith é um dos writers mais antigos e conhecidos de Lisboa, cujo trabalho há muito saltou fronteiras — é possível encontrar obras suas em cidades como Londres, Dubai, Nova Orleães ou Abu Dhabi. A ilusão de ótica através da utilização de técnicas de sombra 3D é um dos seus traços mais marcantes e os seus trabalhos encontram-se expostos em cantos de edifícios ou em fábricas abandonadas. Mais recentemente, o mundo da web tem vindo a despertar para o seu alento, como o provam menções e aparições recentes nos sites Bored PandaLaughing Squid, FubizFrom Up North ou Demilked, entre outros. E a que é que se deve toda esta atenção? A uma das vertentes do seu portefólio, o chamado trabalho anamórfico.

Usando duas ou mais paredes e o chão, Odeith consegue criar a ilusão de que o que pinta está a sair da parede e a flutuar sobre o solo, como se fosse um objeto tridimensional. Este tipo de técnica não é propriamente novidade para o writer, que faz uso dela há cerca de uma década. Mas, claro, como em tudo na vida, ele tem vindo a aperfeiçoá-la e alguns dos seus últimos trabalhos são realmente inacreditáveis. Mas o português teve um longo percurso até chegar à técnica do graffiti em 3D.

O gosto de Sérgio pela pintura começou desde criança. Com cerca de 11 ou 12 anos começou a ter interesse pelo desenho. Depois, surgiu o interesse pelo graffiti, em Carcavelos, onde iniciou o grafitticomum, pintado primeiro na rua e em linhas de comboio. Foi a partir daí que começou a sua carreira na street art. E a experiência valeu-lhe muito, pois Sérgio é um auto-didacta, uma vez que não possui formação em pintura. As suas habilidades advêm do seu percurso, como na Damaia, local onde cresceu e onde viver foi determinante, pois assistir às diferenças sociais foi o que o motivou. Trabalhou ainda com o pai na construção de móveis para casas, mantendo o graffiti em paralelo, e seguiu-se a ocupação como tatuador, onde chegou a abrir três estúdios. O primeiro foi em 1999, mas o último fechou portas em 2008, pois Odeith tinha de viajar para Londres.

Pelo meio surgiu o projecto anamorphic, reconhecido internacionalmente em 2005 pelas diversas obras em diferentes superfícies, como em esquinas de 90 graus ou da parede para o chão, criando um efeito de ilusão de óptica. Foi assim que começou um dos projectos que melhor identifica o estilo muito próprio de Odeith, onde também é possível identificar um dos maiores traços das obras que tem desenvolvido ao longo dos anos –insectos e bichos rastejantes. O grafitter tem um gosto especial por estas criaturas e não faltam exemplos na sua página de Instagram ou do blog, onde se podem ver aranhas ou louva-a-deus gigantes (que parecem muito reais). Porém, tais composições artísticas passam também importantes mensagens, pois Odeith retrata algumas espécies em via de extinção e a problemática ambiental relacionada com os plásticos.

A sua criatividade já fez com que o artista tivesse trabalhado com empresas nacionais e internacionais conhecidas, como a Coca-Cola, a Samsung, a London Shell e o Sport Lisboa e Benfica. Também colaborou com entidades estatais, como as Câmaras Municipais de Lisboa e de Oeiras, locais onde fez diversos murais. Quanto a eventos, Odeith passou por locais como o Meeting of Styles, na Alemanha, Museum of Public Art, em Louisiana, nos EUA, ou o MuBE – Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo, Brasil. No caso de Louisiana trata-se de um local muito especial para Odeith, pois foi aqui que expôs o seu crocodilo, umas das primeiras obras a tornar-se viral e que lhe valeu uma entrevista ao canal televisivo CNN.

Por falar em viral, o mais recente trabalho deste grafitter de 43 anos, em Agosto último, bateu o seu recorde pessoal. Depois de ser publicada no seu perfil de Instagram, que conta já com mais de 600 mil seguidores, a fotografia desta obra ganhou cerca de 80 mil gostos em menos de sete horas. O número não estagnou e é cada vez maior — actualmente, a publicação conta já com 207 mil gostos. Trata-se de uma parede velha que foi transformada num autocarro que, apesar de recente no local — uma fábrica abandonada em Vila Franca de Xira –, aparenta estar destruído. O artista conta ao Bored Panda que para o feito demorou “aproximadamente 10 horas” e usou “cerca de 30 latas de spray”.

Futuro? Só Deus sabe, mas as tintas spray do grafitter português irão viajar para Genebra, na Suíça, para desenvolver um projecto no Village du Soir, e depois para a Austrália, onde vai continuar a fazer correr tinta, tanto nas paredes, como nos media. Podem seguir o seu trabalho aqui: Website https://www.odeith.com | Instagram https://www.instagram.com/odeith | Facebook https://www.facebook.com/odeithofficialpage

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