Aqui cumprimentamos e agradecemos aos motoristas, como já o faziam no centro da Europa. As pessoas fazem-no por simpatia pois aquela pessoa tornou a sua viagem mais cómoda e prática. Eu, mesmo tendo uma rotina, vejo diferentes motoristas ao longo dos dias. Penso que é sempre melhor para quem trabalha no sector, diversificar percursos, diversificar rostos, simplesmente diversificar. Digo “Bonne matin!” ou “Have a good one!” quando chego à minha paragem. Confesso que tinha perdido esse hábito em Lisboa mas este cumprimento faz-me lembrar os meus tempos de escola, em que eu era frequentadora assídua da “urbana”. O motorista, na maioria das vezes, era o Sr. Firmino, de quem me lembro vagamente o rosto, passados mais de 25 anos que me traem a memória. Ele conhecia-nos de cor e salteado, os nossos nomes, as nossas saídas e as nossas travessuras. Era sempre muito paciente connosco excepto quando fazíamos muito barulho ou puxávamos os cabelos uns aos outros. Aí ralhava-nos como se fosse nosso pai e punha-nos logo em sentido. Hoje não reconheceria o Sr. Firmino. Provavelmente reformado uns anos mais tarde. Tenho pena se os mais novos não tiverem lembranças como as minhas, por estarem demasiado tempo de cabeça baixa.
Olho à minha volta, a carruagem está composta. Acho que a vida do Sr. Firmino teria sido completamente diferente agora. Ninguém para perguntar como correu a escola, quais os trabalhos de casa, com que amigos irão brincar no fim de semana. Será que os mais novos cumprimentam os motoristas? Aqueles que tornam o nosso percurso cómodo e prático? Aqueles que conduzem, independentemente das condições meteorológicas? Como se sentirão os Sr. Firminos dos dias de hoje? Com quem falaria hoje, o Sr. Firmino? “Have a good one”, digo, ao qual a motorista de hoje, me responde com um sorriso. Lá vai ela para mais uma volta, mais um percurso, cheio ou vazio de rostos, cheio ou vazio de palavras. É assim, o dia de hoje e mais esta volta ao globo.
Lese Costa Pinto