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O que une a pintura portuguesa e espanhola?

Investigadores portugueses e espanhóis estão a estudar a pintura de Francisco de Zurbarán, um dos maiores pintores espanhóis do século XVII, e a compará-la com a do seu contemporâneo português Baltazar Gomes Figueira e de sua filha Josefa d’Óbidos.

O objetivo é “perceber a influência das técnicas e da pintura de Zurbarán em Baltazar Gomes Figueira e da sua filha Josefa d’Óbidos”, explicou a especialista de conservação e restauro Vanessa Antunes, que coordena a equipa multidisciplinar.

A investigadora do Instituto de História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa explicou que Zurbarán e Baltazar Gomes Figueira estiveram na mesma altura em Sevilha (Espanha) e depois o português regressou a Portugal, enquanto Zurbarán foi para Madrid.

“Nota-se a influência de Zurbarán [nas obras dos dois pintores portugueses], embora não haja documentação que comprove que Zurbarán e Baltazar Gomes Figueira se conheciam”.

Uma vez que existe “uma grande influência em termos estilísticos e estéticos”, os especialistas estão a tentar perceber se se tratava de uma influência direta do pintor ou da sua oficina.

Para o trabalho comparativo das obras, a equipa está a estudar pinturas de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira, que estão espalhadas por Évora, Lourinhã (Lisboa) e Bombarral (Leiria).

“As obras foram sujeitas a uma análise prévia e estamos a fazer um estudo dos materiais e técnicas utilizados, o que também ajuda a perceber o seu estado de conservação”, adiantou Vanessa Antunes.

A investigação foi iniciada em 2016 e deverá terminar no final de 2020.

A equipa é composta por especialistas do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do Laboratório de Instrumentalização, Engenharia Biomédica e Física da Radiação da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa, do Laboratório Hércules da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora e do Laboratório José de Figueiredo da Direção-Geral do Património Cultural.

A nível internacional, os especialistas contam com a colaboração do Instituto do Património Cultural de Espanha e da Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, em Madrid.

Francisco de Zurbarán (1598-1664) e a sua oficina têm uma das mais importantes representações em Portugal, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, com os quadros que compõem o chamado “Apostolado” — os diferentes apóstolos, entre os quais “São Pedro”, que se encontra assinado pelo mestre.

De acordo com o museu português, o pintor “alcançou grande sucesso com as suas séries de homens ilustres da Igreja, retratos de figuras monumentais pouco maiores que o natural, destacando-se de fundos neutros, todos elas impregnadas de uma solidez escultórica, tocadas pela santidade e pela sabedoria”.

Baltazar Gomes Figueira (1604-1674) e a sua filha Josefa d’Óbidos (1630-1684) estão representados em diversas coleções portuguesas, nomeadamente no MNAA.

Estão também representados no Museu do Louvre, na mesma sala em que se encontra o espanhol Zurbarán, com “Santa Apolónia”.

A notoriedade do pintor Baltazar Gomes Figueira só começou a ser valorizada no final do século XX, após estudos em pintura antiga portuguesa, para os quais contribuiu, em 1985, Charles Sterling, que descobriu a sua “Natureza Morta com Laranjas, Cebolas, Peixe e Caranguejo” (1645), exposta no Museu do Louvre.

Josefa de Óbidos aprendeu o ofício com o pai, com quem trabalhou na sua oficina, e recebeu educação religiosa no Convento de Santa Ana, em Coimbra, entre 1644 e 1646, passando a residir em Óbidos a partir desse ano.

A pintora (à semelhança de seu pai) está representada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro “Maria Madalena”, também conhecido por “A Penitente Madalena Consolada Por Anjos”.

Dos quadros-chave na obra da pintora, destacam-se ainda “Maria Madalena” e “Lactação de S. Bernardo”, na coleção do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, “Cordeiro Místico”, no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, “Cordeiro Pascal”, no Museu Nacional Frei Bartolomeu do Cenáculo, em Évora, que detém igualmente algumas naturezas mortas da pintora, assim como as peças “Transverberação de Santa Teresa” e “Sagrada Família” e “Calvário”.

O Museu da Misericórdia do Porto possui “A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos”.

Em Baltimore, nos Estados Unidos, o Museu de Arte Walters tem no seu acervo e em exposição permanente o “Cordeiro Sacrificial”, pintura adquirida em Roma, no início do século XX, pelo fundador da instituição, Henry Walters.

Em 1991, a Galeria D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, acolheu a mostra “Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco” e, em 1997, o National Museum of Women in the Arts, em Washington D.C., nos Estados Unidos, dedicou à artista a exposição “Sagrado e Profano: Josefa de Óbidos de Portugal”.

A primeira exposição conhecida com obras de Josefa de Óbidos remonta ao final da década de 1940, no MNAA, com a reunião de pinturas do seu acervo.

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