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O primeiro dia (do resto da vida do Vasco)

O Vasco é estudante de Economia e escolheu o Grão-Ducado para “fazer um Erasmus”. Por amizades interpostas (porque aqui, na emigração, o esquema “amigos dos amigos” funciona ainda melhor do que “lá em baixo”) calhou-me a mim ir buscar o Vasco ao aeroporto. Antes de lhe mostrar o albergue de juventude convidei-o para jantar e lancei-lhe um desafio: (d)escrever as (primeiras) impressões do Luxemburgo aqui nas páginas do BOM DIA.

O Vasco reagiu em menos de 24 horas e salientou um aspeto essencial: aqui não temos a impressão de estar fora de Portugal. Curiosamente, ao ler a crónica do Vasco, percebi que as coisas não mudaram muito e que, no princípio dos anos 90, a sensação era já muito próxima do que ele viveu em 2017.

Questionei-me sobre o que terá mudado desde então. A primeira resposta é a tecnologia: em 1990 a informação de Portugal chegava pelos jornais que, por vezes, eram entregues no Luxemburgo no dia de edição à tardinha ou pelos “diretos” que as rádios piratas portuguesas do Luxemburgo faziam, por via telefónica, retransmitindo assim os blocos noticiosos. Não é necessário explicar que em 2017 a informação de Portugal chega cá fora instantaneamente e também é produzida em língua portuguesa no Luxemburgo. Já para não falar nos telefonemas semanais racionados dos anos 90 que agora se transformaram em longas conversas de vídeo totalmente gratuitas (não deixando margem para desculpa a quem se esquece de ligar à tia que faz anos).

Mas o país Luxemburgo viveu também mudanças profundas. Além do número de portugueses ter aumentado consideravelmente, a comunidade é mais visível e interventiva e as segundas e terceiras gerações estão presentes em todos os domínios socioprofissionais (o melhor exemplo será o atual ministro da Justiça que é filho de algarvios). É assim natural ser atendido por um lusodescendente num banco ou descobrir que o presidente de uma ONG se chama João.

O Luxemburgo de há três décadas era uma aldeia quando se compara com a cena cultural vibrante animada por meios financeiros aparentemente ilimitados e por uma população estrangeira proveniente de todo o planeta que trabalha para empresas como a Amazon, a Microsoft, as “big four” ou nas muitas financeiras que transformaram o mercado do trabalho luxemburguês. Quando cheguei quase não havia salas de cinema dignas desse nome no Luxemburgo. Hoje, o Vasco pode escolher entre vários “multiplex” ou as salas independentes que propõem mais do que “blockbusters”.

No final dos anos 80 os portugueses e espanhóis que se instalaram no Grão-Ducado para trabalhar para as instituições europeias pediam transferência para Bruxelas o mais rapidamente possível porque “morriam de tédio”. Hoje em dia vão ficando por cá: os mais novos gostam da localização geográfica “a duas horas de carro de quase tudo” e aqueles que constituem família apregoam a segurança e a qualidade de vida que representa viver na cidade e no campo ao mesmo tempo, sem engarrafamentos e com excelentes transportes públicos.

Eu já cá estou há 26 anos. Vamos ver se o Vasco volta para o Porto…

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