De que está à procura ?

Colunistas

O poeta A. Garibáldi

Artur Garibáldi Pereira Braga, nasceu em Braga, freguesia da Sé, na Rua de D. Frei Caetano Brandão, em 1913, mas uma boa parte da sua vida viveu-a em Felgueiras.

Poeta, de nascença, porque os verdadeiros poetas não se fazem, nascem poetas, e depois então se fez jornalista, escritor, cronista, e biógrafo, tendo escrito também vários prefácios em obras de outros autores.

Como biógrafo destacou-se ao escrever o livro “O Escritor Gaspar Baltar”, demonstrando excelentes e únicas qualidades de grande observador e psicólogo ao mesmo tempo.

Colaborou em numerosas publicações da Europa e da América Latina e pertenceu a diversas Academias espalhadas por variadíssimos países.

Iniciou os seus primeiros passos no jornalismo num “jornalzinho” manuscrito que se publicava no Liceu de Braga, chamado “Yes Monsieur”.

Dirigiu durante anos o Jornal de Felgueiras e mais tarde fundou o seu próprio Jornal chamado a Gazeta de Felgueiras, do qual eu fui assinante durante grande parte da sua existência, e apesar de ser bastante reduzido em volume, tinha conteúdo cultural de fazer invejar muitos dos jornais nacionais, pois contava com um leque de colaboradores de grande categoria literária.

Eu fui vizinho de A. Garibáldi durante vários anos da minha, e da vida dele.

Sempre tive admiração por aquele homem que passava defronte a minha casa, umas vezes vindo do seu trabalho, outras vezes indo. Homem com um porte de grande nível e dignidade, de um aprumo moral que inspirava admiração e simpatia.

Mais tarde tive a oportunidade de o entrevistar para aquele que foi o meu primeiro programa na Rádio Felgueiras, chamado “Música e Letras.”

Era um programa de duas horas e, sempre com muita música pelo meio, o programa era dedicado a poetas e escritores Portugueses, uns, infelizmente com homenagem póstuma, outros, ainda entre nós, nessa época, como o caso de A. Garibáldi, com entrevista devidamente preparada. Já agora lembro também a entrevista a Lena D’Agua, acerca do seu livro de poesia A Mar Te, e o programa póstumo dedicado a Zeca Afonso, muito embora esse, o programa, na associação José Afonso ninguém saiba que o programa era meu, como realizador e apresentador, uma vez que às vezes na vida colhe os louros quem sabe viver e não quem vive sem grandes pretensões. Como é o meu caso.

De qualquer maneira reconheço a colaboração valiosa que tive para o meu programa dedicado ao grande Zeca.

Mas estamos cá para lembrar o Mestre da poesia e homem de letras que foi A. Garibáldi.

Como tive a oportunidade de entrevistar o grande Poeta, fiz um trabalho de pesquisa que me deixaria bastante surpreendido ao constatar a verdadeira grandeza deste homem.

A. Garibáldi possuía as comendas da Ordem de Mérito Hispano-Belga, da Bélgica, e da Ordem de La Corona Azteca, do México, e era oficial da “Ordre de Encouragement Public” de Paris.

Em 1979, aquando da sua visita ao Brasil, foi homenageado pelos Poetas de S. Paulo, tendo recebido muitas mensagens de apreço e admiração da comunidade literária Brasileira.

Em 1980 recebeu um honroso convite por parte do Presidente da Camara de Brindisi e da escritora Maria Grazia de Giosa, para visitar aquela cidade Italiana como “hóspede de honra”, convite que acabaria por não poder aceitar devido a crise cardíaca.

Aqui está…certíssimo o velho ditado de que santos da casa não fazem milagres.

Um homem desta envergadura, mesmo não sendo natural de Felgueiras, mas à terra dedicou grande parte da sua vida, era desconhecido, por vezes, atrevo-me a dizer, ignorado, como grande homem de letras, com um espólio literário de grande dimensão.

Tive o privilégio de privar alguns momentos que recordo com enorme saudade pois tinha grande admiração por ele, não só como homem de uma dignidade sem igual, mas também com uma bagagem cultural e literária sem precedentes.

Hoje sei que o programa que lhe dediquei na Rádio Felgueiras seria uma verdadeira relíquia se fosse meu costume, e cuidado, cuidar bem do que me tem passado pelas mãos ao longo da vida e tivesse guardado a gravação do mesmo.

Juro que na minha próxima volta pela terra farei tudo de maneira bem diferente.

A. Garibáldi um dia afirmou que amava o povo, mas não era uma pessoa popular. Nenhum intelectual é popular.

Afirmou também que, duas das suas maiores alegrias na sua vida, foram o fim da segunda guerra mundial, com a vitória das forças democráticas, e o movimento de 25 de Abril de 1974, que restituiu aos portugueses a liberdade.

A respeito de Artur Garibáldi Pereira Braga, o seu grande amigo e também grande Poeta Sousa Machado afirmou, “Foi um Poeta lírico sem igual, um defensor intransigente da Liberdade, da Justiça, e do Bem do Povo Português.”

A. Garibáldi faleceu a 20 de Agosto de 1992.

Recordo-o, sempre, com enorme saudade, e nunca, mas nunca, me esqueço do grande Poeta, escritor e homem de Letras que foi.

Deixo-os com alguns poemas de sua autoria, do livro “Sonetos de Amor e Fel”

Desilusão
Dá-se na vida o coração, e dá-se
À luz do sonho, o nosso sonho em riso,
Julgando Caminhar no Paraíso,
Como que o Paraíso se encontrasse.

Como Arbusto que em flor desabrochasse,
Inebria-nos o Amor – luz e sorriso:
Ele nos toma o rumo do juízo,
Como um vinho letal que o embebedasse…

É hŭa manhã de pássaros a vida.
E a nossa vida é árvore florida
Que convida ao amor tanta mulher!

Árvore que ao amor estende os ramos:
E amamos, nós amamos, nós amamos,
E não é quem amamos, que nos quer!…
Metamorfose
Era ontem manhã em nossa vida:
Era o sol alto e era a luz em flor.
E ao nosso coração a voz do Amor
Nos dizia uma ária conhecida.

Desabrochavam rosas na subida…
E difícil seria de supor
Que chegaria a hora do sol-pôr
E estaríamos breve na descida.

E essa verdade, infelizmente veio:
De negridão anda o caminho cheio,
O nosso chão é cheio de aspereza.

E agora vamos sendo convencidos
De que andam iludidos, iludidos,
Os que crêem que a vida é uma certeza…

Apelo à Paz
A Paz é a alegria dos vergéis,
A harmonia dos homens de mãos-dadas,
A luz do Sol que doira as madrugadas,
A justiça, a verdade que enche as leis.

É pela Paz que a voz dos menestréis
Aos homens todos chama camaradas;
E se amardes a Paz, nunca as ciladas
Da vida em vossa vida sentireis.

Seja o vosso viver em paz e bem,
Entre músicas de harpas, mundo além,
Como um sereno mundo de crianças!

E amai este desejo de poetas:
– Que sobre um chão a arder de baionetas
Esvoacem milhões de pombas mansas!

A. Garibáldi (Sonetos de Amor e Fel – 1986)

Este soneto, Apelo à Paz, foi um dos sonetos que o grande Mestre teve a amabilidade de declamar em exclusivo para o programa que lhe dediquei na Rádio Felgueiras, no “Musica e Letras”. Ao transcrevê-lo pude ouvir com uma nitidez fantástica o tom da sua voz no meu cantinho das memórias, e não fui capaz de conter algumas lágrimas traiçoeiras.

António Magalhães

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA