O impacto das tarifas dos EUA na União Europeia e a resposta de Portugal

Nos últimos tempos, o cenário económico internacional tem sido palco de uma dança complexa, onde as políticas comerciais dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, têm lançado novos desafios aos seus parceiros comerciais. A imposição de tarifas sobre produtos europeus e a ameaça de novas barreiras alfandegárias têm provocado apreensão na União Europeia (UE) e, em particular, em Portugal. O Primeiro-Ministro português, Luís Montenegro, já anunciou um pacote de medidas no valor de 11 milhões de euros para mitigar os efeitos destas políticas protecionistas.
A relação comercial EUA-UE sob pressão
A relação transatlântica, historicamente pautada por uma forte cooperação económica e política, tem enfrentado turbulências devido às recentes políticas comerciais dos EUA. A administração Trump implementou tarifas significativas sobre importações provenientes de vários parceiros comerciais, incluindo a UE. Estas medidas têm suscitado preocupações quanto ao potencial impacto negativo no comércio bilateral e na estabilidade económica global.
Luís Montenegro, Primeiro-Ministro português, expressou confiança na capacidade da UE para negociar com os EUA e evitar uma “excessiva carga tarifária”. Em declarações feitas em Bruxelas, Montenegro afirmou que “os EUA são um parceiro comercial, um parceiro político de primeira linha da UE. E não há razão para não termos capacidade de demonstrar, com argumentação, as virtudes de termos trocas comerciais que não estejam marcadas por uma excessiva carga tarifária”.
Portugal: um “farol de estabilidade” em tempos de incerteza
Apesar das adversidades externas, Montenegro destacou que Portugal se posiciona como um “farol de estabilidade” política, social e financeira. Durante a inauguração das novas instalações do Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (CeNTI), o Primeiro-Ministro sublinhou que “quem diria que, há uma década atrás, saídos de um processo de recuperação em que tivemos de solicitar ajuda externa, hoje somos, no âmbito da Europa, uma referência de estabilidade financeira, com uma das melhores performances da União Europeia?”
A resposta portuguesa: investimento de 11 mil milhões de euros
Consciente dos desafios impostos pelas tarifas norte-americanas, o Governo português anunciou um pacote de medidas no valor de 11 mil milhões de euros para apoiar a economia nacional. Este plano inclui 5,2 mil milhões de euros em linhas de financiamento para capital de giro e investimento das empresas, 3,5 mil milhões de euros destinados especificamente a investimentos de exportadores, 400 milhões de euros em subsídios e 1,2 mil milhões de euros em seguros de crédito. O objetivo é apoiar cerca de 70.000 exportadores e atrair investidores estrangeiros, reforçando a confiança e a capacidade de adaptação da economia portuguesa.
A União Europeia e a estratégia de diálogo
A UE tem procurado abordar as tensões comerciais com os EUA através do diálogo e da negociação. Montenegro enfatizou a importância de uma abordagem realista e unida por parte dos Estados-membros, afirmando que “é preciso olhar para as questões com realismo. A Europa, nos últimos anos, teve excesso de regulamentação, teve objetivos talvez demasiado ambiciosos, naquilo que diz respeito a ter regras similares aos outros blocos comerciais”.
Portugal e a atração de investimento estrangeiro
Paralelamente, o Governo português tem manifestado interesse em atrair investimento estrangeiro, particularmente dos EUA. Montenegro afirmou que Portugal está “muito interessado em atrair investimento americano e em continuar a aumentar as visitas de turistas, que são o terceiro contingente, mas o mais importante em termos de dinheiro ‘per capita’ que gastam cá”.
O bailinho das tarifas: uma dança perigosa para a economia mundial
O cenário económico mundial tem sido palco de uma dança frenética, com os mercados financeiros a oscilar ao ritmo das políticas comerciais da administração de Donald Trump. Recentemente, o presidente norte-americano anunciou uma suspensão de 90 dias nas tarifas impostas à maioria dos parceiros comerciais, com a exceção notável da China, cujas taxas foram elevadas para 125%.
Esta decisão provocou um alívio imediato nas bolsas, com as principais tecnológicas a registarem ganhos significativos, enquanto o dólar americano recuperou face ao yuan chinês para níveis não vistos há cerca de duas décadas.
A introdução abrupta de tarifas, incluindo uma taxa de 25% sobre importações do Canadá e do México, bem como uma taxa de 10% sobre produtos chineses, desencadeou uma reação em cadeia nos mercados globais. Estas medidas protecionistas não só perturbaram as relações comerciais internacionais, como também lançaram uma sombra sobre o crescimento económico global. Analistas alertaram para o potencial enfraquecimento do crescimento mundial em 2025.
As bolsas asiáticas registaram quedas significativas, com o índice Nikkei a cair 2,66% no fecho da sessão de 3 de fevereiro de 2025. Na Europa, o sentimento negativo alastrou-se, refletindo a preocupação dos investidores face à escalada das tensões comerciais.
Perante a crescente pressão internacional e a volatilidade dos mercados, Trump anunciou a suspensão temporária das tarifas para a maioria dos parceiros comerciais, mantendo, contudo, uma postura rígida em relação à China. Esta decisão levou a uma recuperação nas bolsas, com o Dow Jones a subir 8%, o S&P 500 a ganhar 9% e o Nasdaq a registar um aumento de 12%. O dólar americano também se fortaleceu face ao yuan.
A manutenção de tarifas elevadas sobre a China, com um aumento para 125%, intensificou as tensões entre as duas maiores economias mundiais. Pequim retaliou com tarifas de 84% sobre produtos norte-americanos e impôs restrições a certas empresas dos EUA.
A valorização do dólar face ao yuan tem implicações significativas: torna as exportações americanas mais caras e menos competitivas no mercado internacional, mas também pode atrair fluxos de capital para os EUA, dada a perceção de uma moeda forte como porto seguro em tempos de incerteza.
Navegando em águas turbulentas
O atual cenário de tensões comerciais entre os EUA e a UE representa um desafio significativo para os países europeus, incluindo Portugal. No entanto, através de uma combinação de medidas internas robustas, como o pacote de 11 mil milhões de euros, e uma estratégia de diálogo e cooperação a nível europeu, Portugal procura mitigar os impactos negativos e posicionar-se como um parceiro comercial resiliente e atrativo. A estabilidade política e financeira do país, aliada a uma abordagem proativa na atração de investimento estrangeiro, poderá ser determinante para enfrentar os desafios impostos por esta nova realidade económica global.
António Ricardo Miranda