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O hábito faz o monge

© Pixabay

Ter o primeiro-ministro de Portugal trajando como se fosse beber um copo ao Urban Beach, enquanto acompanhava o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, Manuel Domingos Augusto, impecavelmente aprumado em revista a militares perfilados, não foi só uma circunstância do momento, nem é uma atitude que possa ser desvalorizada. Reflete uma “proletarização” do Estado promovida por uma certa Esquerda que há décadas se esforça por desmantelar símbolos e valores de sempre, que acha antigos, sem ter noção que enquanto exerce funções eletivas, ou em áreas de soberania, não se representa a si, mas transporta todo o peso do Estado.

De mocassins e calças de ganga, numa ocasião com peso protocolar, não esteve apenas António Costa, mesmo se convencido do acerto da combinação feita ao gosto da moda em voga no Largo do Rato. Esteve o primeiro-ministro de um país, que por acaso impõe a outros – e bem -, regras protocolares de “etiqueta e pragmática” que como inscrito em decreto regulamentar e publicado no Portal do Governo, são definidas “de acordo com as práticas internacionais vigentes e as tradições e costumes do Estado português”.

Encarnar o Estado em funções públicas implica formalismo e responsabilidade. Foi sempre assim.

O problema é que não falta quem hoje confunda informalidade com modernidade. E, infelizmente, há anos que o mau exemplo vem de cima.

Começou na Assembleia da República, com o dr. Louçã e companhia em postura andrajosa, para melhor impacto cénico na defesa da liberalização do consumo de drogas e da guerra aos crucifixos. Consciente do poder da imagem, no BE, a par dos discursos inflamados, a T-shirt manhosa foi sempre uma imagem de marca. Mas ao menos nesses tempos, a enorme maioria da representação parlamentar, PS incluído, tinha noção de onde estava. Acontece que depois, veio a “bloquização” do próprio PS.

Assim se percebe que a opção descontraída do primeiro-ministro em Angola nem sequer tenha sido caso único. Teve precedente na imagem gémea do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, sem gravata e em desleixo, a passar revista às tropas em Portugal, mesmo sabendo que as Forças Armadas foram forjadas por séculos de tradições que encaram o atavio e aprumo como regras essenciais. Apesar do óbvio desprezo do Governo em relação à instituição militar, há atos que soam a insulto.

Acresce o momento e o país. Independentemente da história, Angola é um parceiro estratégico e comercial importante para Portugal. Sendo que em política e em relação a governantes, o hábito também faz o monge.

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