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O Dia de Portugal e a diáspora

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é sempre uma excelente oportunidade para refletir sobre a presença portuguesa no mundo e o que isso significa para as comunidades e para o país. Ela é demasiado importante para continuar a ser vista na perspetiva limitada e redutora da emigração como sofrimento ou do emigrante com mala de cartão. Somos muito mais que um fenómeno político, económico ou sociológico. Somos um povo que transforma o mundo e é isso que é preciso reconhecer e compreender.

A estrutura e composição das comunidades mudou com os lusodescendentes e os novos migrantes, a sociedade portuguesa transformou-se e qualificou-se, a mobilidade e a informação em rede é uma realidade e, embora a incompreensão, ignorância e preconceito ainda persistam, a verdade é que este universo rico e denso de história e de humanidade é hoje melhor compreendido e valorizado do que há umas décadas atrás.

Foi feito um caminho muito importante de valorização e reconhecimento das comunidades portuguesas, para o qual o contributo dos governos, dos deputados na Assembleia da República, dos diplomatas, do movimento associativo, da imprensa das comunidades ou dos conselheiros do CCP foi relevante, unindo mais quem está no país e quem está fora. Merecem um particular destaque os órgãos de comunicação social das comunidades, que têm dado um contributo inestimável para criar um corpo mais ativo, dinâmico e reivindicativo, dando ao mesmo tempo a conhecer quem são e o que fazem muitos dos protagonistas da diáspora e a importância que têm para Portugal e para os países de acolhimento.

Os deputados, tantas vezes incompreendidos e desvalorizados na sua missão, estão no centro do debate político para a valorização das comunidades, com o permanente confronto democrático de posições, procurando sempre que os governos e a sociedade compreendam a sua relevância para o país e a necessidade de serem considerados como portugueses de parte inteira, sem preconceitos nem clichês, o que implica necessariamente maior atenção para a resolução dos diversos problemas concretos que os afetam.

Um momento de viragem ocorreu quando pela primeira vez, em Paris, em 2016, o Dia de Portugal foi celebrado junto das comunidades portuguesas, com a presença do Presidente da República, do Primeiro-Ministro e de outras individualidades. Esta é uma celebração para ficar. Não há retrocesso possível. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa iniciaram esta prática. Os presidentes e primeiros-ministros no futuro terão de a continuar.

É inegável que hoje se compreende melhor este universo extraordinário que são as comunidades portuguesas, entendidas como um ativo político, diplomático, económico e cultural de primeira grandeza, dispersas por todos os países em todos os continentes. Basta olhar para a forma como a comunidade portuguesa está enraizada em países como a França, Luxemburgo, Estados Unidos, Brasil e tantos outros, para compreender que a sua relevância não pode ser negligenciada, com as gerações mais antigas e os seus descendentes a desempenharem funções de grande relevo para potenciar as relações bilaterais.

Mas, claro, há ainda muito caminho para fazer. Mas quanto maior for este sentido de comunidade, que de forma nenhuma deve ser sinónimo de fechamento sobre si próprio, bem pelo contrário, mais Portugal sai engrandecido. Na realidade, pode-se considerar que, para Portugal e os portugueses, não existem fronteiras nem geografias. O mundo é a nossa casa e, onde quer que estejamos, somos sempre muito considerados e respeitados e demonstramos uma grande capacidade de adaptação. Somos interpretes de culturas, como dizia Eduardo Lourenço ou, como dizia Eça de Queiroz, uma força de transformação civilizacional.

E é este universalismo, humanismo e cosmopolitismo, que existe no presente e no legado português ao longo de muitas gerações de migrantes, em todos os continentes, que precisamos de projetar e continuar a cultivar, convivendo bem com todos em todo o mundo. Sempre fomos assim. Sempre seremos assim.

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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