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Netflix prepara fim de partilha de contas

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A Netflix deu a entender que vai boicotar as famílias que partilham senhas, pois pretende subscrever novos membros depois de uma quebra no número de assinantes.

De janeiro a março de 2022, a plataforma perdeu 200.000 assinantes, não só por causa da concorrência, mas também pelo aumento do preço em alguns países e pela saída da Rússia. A Netflix acredita que perderão outros dois milhões de subscritores até julho.

“O nosso crescimento de receita desacelerou consideravelmente”, disse a empresa aos acionistas na passada terça-feira, após publicar os resultados do primeiro trimestre, como noticia a BBC. “A nossa penetração familiar relativamente alta – que inclui um grande número de famílias que partilham uma conta – combinada com a concorrência, está a criar ventos desfavoráveis nas receitas”.

A gigante do streaming estima que mais de 100 milhões de casas estão a “desrespeitar as regras” por compartilhar senhas.

O CEO da Netflix, Reed Hastings, descreveu anteriormente a prática como “algo com o qual tem de se aprender a conviver”, acrescentando que muito disso é “legítimo” entre os membros da família. A empresa também salientou que a partilha de contas provavelmente alimentou o crescimento ao fazer com que mais pessoas usassem a plataforma. Mas na terça-feira, Hastings disse que estava a dificultar a atração de novos assinantes em alguns países.

“Quando estávamos em crescimento rápido, não era uma alta prioridade trabalhar (no compartilhamento de contas). E agora estamos a trabalhar muito duro nisso”, referiu aos acionistas.

A empresa disse que os planos de pagamento que estão a ser testados para conter a partilha de senhas na América Latina podem ser implementados em outros países. Desde o mês passado, os donos de contas no Chile, Costa Rica e Peru devem pagar para adicionar perfis de usuários para pessoas de fora da casa. Para já, a empresa permite que quem more na mesma casa possa ter acesso à mesma conta.

A Netflix – que não disse como aplicaria a regra – disse que estava a procurar uma solução “centrada no cliente”. “A principal maneira que temos é pedir aos nossos membros que paguem um pouco mais para partilhar o serviço fora de casa”, disse Greg Peters, COO da Netflix.

Dominic Sunnebo, analista da empresa de pesquisa Kantar, alertou que o plano pode sair pela culatra num momento em que os consumidores estão a querer poupar dinheiro, dado o contexto mundial.

“Se os esquemas para combater o compartilhamento de senhas forem muito rápidos e agressivos, também correm o risco de alienar um potencial público futuro – muitos que compartilham senhas fora de casa não estão realmente cientes de que estão a desrespeitar os termos e condições da assinatura”.

Custo de vida atingido
A Netflix disse que a saída da Rússia em março em resposta à guerra na Ucrânia custou 700.000 assinantes. Perderam quase o mesmo número na América do Norte depois de terem subido os preços.

A Netflix admite que o aumento dos preços renderiam mais dinheiro para a empresa, apesar dos cancelamentos. Mas analistas dizem que o custo crescente dos serviços de streaming está a afetar as famílias à medida que o custo de vida aumenta.

No Reino Unido, as famílias cancelaram mais de um milhão e meio de assinaturas de streaming nos primeiros três meses do ano, com 38% a referirem a poupança como argumento, como refere a BBC.

Parecendo reconhecer isso, Hastings admite que a Netflix está a refletir em lançar um serviço gratuito suportado por anúncios, como a Disney+ e a HBO. Analistas dizem que essa tática pode abrir um novo fluxo de receita significativo para a empresa, que até agora tem evitado utilizar publicidade. “Quem acompanha a Netflix sabe que sou contra a complexidade da publicidade e sou um grande fã da simplicidade da assinatura”, assume. “Mas, por mais que eu seja fã disso, sou um grande fã da escolha do consumidor”.

A maior ameaça da Netflix é a intensa concorrência de empresas como a Amazon, a Apple e a Disney, que estão a investir nos seus serviços de streaming online, não sendo a única fonte de receita.

Paolo Pescatore, analista da PP Foresight, afirma que a perda de assinantes da Netflix foi uma “verificação da realidade”, pois tenta equilibrar a retenção de assinantes com o aumento de sua receita. “Embora a Netflix e outros serviços tenham sido fundamentais no confinamento, os utilizadores agora estão a pensar duas vezes sobre o comportamento de compra com base na mudança de hábitos”, conclui.

A empresa – que continua a ser o principal serviço de streaming do mundo, com mais de 220 milhões de assinantes – teve um crescimento trimestral contínuo de assinantes desde outubro de 2011. No entanto, o CEO admite que um aumento nas subscrições durante a pandemia “escondeu” o crescimento real.

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