Dois anos desde a entrada das primeiras máquinas no antigo Matadouro Industrial de Campanhã, no Porto, os edifícios começam a livrar-se do entulho e as estruturas a ganhar forma para, até ao final de 2024, concretizar um projeto “âncora”.
No antigo complexo industrial, as equipas da Mota-Engil, empresa a quem foi adjudicado o contrato de reconversão e exploração, vão desdobrando-se pelos cerca de 26 mil metros quadrados.
Máquinas e homens reforçam fundações, picam paredes, limpam e reparam as vigas que vão suportar o novo telhado, e retiram o entulho que por lá permanece.
O muro que separa o espaço da Rua de S. Roque da Lameira será, entretanto, demolido e o complexo, outrora utilizado para a matança de animais, ficará aberto à zona oriental do Porto.
“Vamos demolir o muro e criar uma praça pública”, explicou à Lusa, durante uma visita a obra, a gestora do projeto de reconversão, Margarida Barbosa.
Na praça ainda por construir, vão permanecer as árvores centenárias e, a elas, juntar-se-ão, no final do próximo ano, as esplanadas dos restaurantes que vão ocupar o primeiro edifício, num modelo de ‘open space’ no interior.
Poucos metros distam da futura praça à nave central, espaço que irá manter as estruturas metálicas onde o gado era transportado, numa “alusão histórica” à atividade que lá decorreu durante 70 anos.
A nave central, que percorre o complexo de uma ponta a outra, será a “charneira” entre os edifícios que irão albergar espaços empresariais, comerciais e de lazer, e os espaços que ficarão sob a gestão da autarquia.
“O edifício que inicialmente ia albergar os espaços municipais teve de ser demolido”, adiantou Margarida Barbosa, apontando para a clareira que irá dar lugar a uma “construção mais contemporânea”.
À semelhança deste edifício, outros dois foram também demolidos nas traseiras do complexo.
Nos 11 edifícios que compõem o antigo matadouro, foram colocados “alvos de monitorização”, que permitem acompanhar a evolução e os impactos da obra na estrutura.
“Este é um trabalho de relojoaria”, admitiu a responsável, explicando que a maioria dos pilares tiveram de ser reforçados dada a permeabilização do solo, e que, por imposição da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o ribeiro de água que passa por debaixo do complexo “teve de ser desviado”.
Nas traseiras do espaço, uma outra clareira dará lugar a dois novos edifícios, também eles contemporâneos e que, visualmente, vão combinar com a nova passagem superior entre o antigo matadouro e a estação de metro do Dragão, atravessando a VCI.
“A construção da ponte já foi aprovada por todas as entidades”, adiantou Margarida Barbosa, esclarecendo que a construção deverá decorrer durante a noite para causar o “mínimo de constrangimentos possíveis” à circulação.
A par da ponte, outro dos elementos “chave” do projeto, que tem a assinatura do arquiteto japonês Kengo Kuma e dos arquitetos portugueses OODA, é a cobertura.
“A cobertura vai manter-se, mas vai ser diminuída para respeitar o espaço da IP”, afirmou Margarida Barbosa, adiantando que a estrutura “será de chapa metálica perfurada” e terá painéis fotovoltaicos.
“A ideia é permitir a passagem de luz”, acrescentou.
Até ao último trimestre de 2024, data prevista para a conclusão das obras, o trabalho de relojoaria continuará no antigo complexo industrial.
Até lá, um dos “maiores desafios será manter o valor da obra” – fruto de um investimento superior a 40 milhões de euros – dado o aumento do preço dos materiais de construção e inflação, admitiu Margarida Barbosa.
Há precisamente dois anos, as máquinas escavadoras da Mota-Engil entravam no antigo complexo industrial. À época, os trabalhos concentravam-se na limpeza da zona, demolições dos elementos em elevado estado de degradação, terraplanagens e sondagens às estruturas existentes.
Em setembro de 2022, a primeira fase da obra estava concluída e, em janeiro deste ano, a obra entrou na segunda fase da reabilitação, que se estima que dure 24 meses.