Num outro dia, sentei-me na carruagem de frente para uma mãe e uma filha. Uma dedução minha, devido à sua diferença de idades pois poderiam ser irmãs, tia e sobrinha, ou simplesmente uma mulher adulta que acompanhava uma rapariga.
Acho que já as tinha visto anteriormente, mais do que uma vez mas, o que me leva hoje a escrever sobre elas, é o entusiasmo contagiante que a mais nova demonstrava a ler um livro, aparentemente não se tratava de uma banda desenhada mas de um livro em prosa com mais de 100 páginas em francês, possivelmente uma literatura juvenil, dedução minha pela ilustração que a capa apresentava.
Um outro aspeto que me leva a escrever sobre elas é o facto da mulher adulta também se encontrar a ler. Poderia ser um romance ou um policial mas, em vez disso, pareceu-me ser uma pequena bíblia ou versículos de um qualquer livro usado para contemplar a sua religião.
O lenço que cobria os seus cabelos e pescoço mostrava devoção ou cumprimento de costumes. A rapariga, a seu lado, nos seus 10, 11 anos, ainda não escondia os seus longos cabelos negros, mas que, num futuro próximo, poderá ter de o fazer.
Não escrevo por julgamento mas por interesse. Independentemente do uso do lenço, aquela mãe, mulher, incumbiu na rapariga o gosto pela leitura. Era contagiante a forma como a menina mergulhava nas páginas daquele livro, antes das 7h de manhã de um dia de Verão, fazendo lembrar-me de mim própria, quando requisitava um novo livro na biblioteca municipal da minha vila e me sentia completamente mergulhava nessa história.
Agora, como podemos julgar alguém pelos seus hábitos, religião, tradições, se este permite a outro alguém sonhar pelas páginas de livro? Eu não sou capaz… Só espero que a rapariga consiga sonhar, ter a liberdade que ela própria quiser, seja essa qual for.
LCP
22 de Julho
In “Deambulando pelo metro”