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Mianmar: igreja de comunidade lusodescendente foi totalmente queimada

A histórica Igreja de Nossa Senhora da Assunção no vilarejo de Chan-tha-ywa, em Mianmar, onde vive uma comunidade católica, os bayingyis, descendentes de portugueses, foi totalmente incendiada e destruída no dia 14 de janeiro por soldados da junta militar.

“Foi mais um sinal de violência contra as minorias religiosas, nomeadamente os cristãos. O Papa falou em dor, ao evocar o ataque a este símbolo cristão”, diz Paulo Aido em artigo publicado esta semana.

Paulo Aido é é um dos responsáveis da Fundação AIS, o secretariado português da organização internacional Aid to the Church in Need (ACN), uma fundação pontifícia que, a pedido do Papa, ajuda os cristãos onde quer que sejam perseguidos, refugiados ou ameaçados por causa da sua fé.

A fundação considera que o templo agora destruído era mais do que uma igreja: “Era um símbolo cultural e o orgulho da comunidade católica. O ataque à histórica Igreja de Nossa Senhora da Assunção, no vilarejo de Chan-tha-ywa, por soldados do exército, deixou um rasto de perplexidade. Não houve nenhuma luta, nenhum confronto, nenhuma provocação. Mas, apesar disso, o templo foi queimado. Ficou totalmente destruído”.

Erguida no séc. XIX, em 1894, esta igreja “era motivo de orgulho para os católicos do Alto Mianmar, não apenas por causa da sua tradição secular, mas pelo baptismo do primeiro bispo [do país] e por ter sido sede da ordenação de três arcebispos e mais de 30 sacerdotes e religiosas”, explicava a AsiaNews ao dar a notícia. Mas esta igreja queimada agora pelos militares, e que levou o Papa Francisco a pedir as orações de todos os Cristãos “pela população civil indefesa” de Mianmar, diz muito também a uma comunidade local descendente de portugueses: os bayingyis.

Os constantes ataques que esta comunidade tão especial tem vindo a sofrer por parte dos militares de Mianmar têm sido denunciados pela AILD, Associação Internacional de Lusodescendentes. Joaquim Magalhães de Castro, director-geral para a região Ásia Pacífico da AILD, lamenta “o silêncio” das autoridades, em mais este episódio de violência, e fala mesmo em “barbárie”. “A comunidade luso-descendente católica de Mianmar, os bayingyis, foi mais uma vez vítima de um ataque da junta militar”, afirmou este responsável, que é também investigador da História da Expansão portuguesa, em declarações à Fundação AIS. “Desta feita foi uma igreja centenária totalmente incendiada. Aqui, em Portugal, continua o silêncio, apesar de todos os factos do que tem vindo a acontecer, dos ataques, das destruições das colheitas e das casas. Portugal continua a ignorar e, mais grave ainda, continua a não reconhecer a existência desta comunidade apesar de historicamente isso estar mais do que comprovado. É lamentável”, disse ainda.

Face à gravidade da situação, que a associação tem vindo a monitorizar, Joaquim Castro – autor também de diversos livros, nomeadamente “Viagem ao Tecto do Mundo”, que foi adaptado para documentário e exibido na televisão portuguesa –reafirma a necessidade de se fazer alguma coisa, até mesmo ao nível político, para se proteger esta comunidade católica, os bayingyis, descendentes de combatentes portugueses que entre os séc. XVI e XVII estiveram ao serviço dos monarcas birmaneses. “Vamos tentar levar o assunto ao Parlamento e divulgar isto o mais possível a ver se se consegue fazer algo para travar esta barbárie”, disse à Fundação AIS.

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