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Marcelfies

Membro da diáspora há quase trinta anos e em vários destinos europeus, foi com extremo orgulho que recebi a notícia na primavera de 2016 de que Marcelo Rebelo de Sousa (permitam-me a familiaridade e o uso da versão curta, Marcelo, a partir daqui) pretendia comemorar o 10 de Junho junto das comunidades.

No BOM DIA mobilizamo-nos para organizar a maior cobertura de sempre de uma visita presidencial à emigração. Foram três dias intensos e que marcam o início da história de amor entre Marcelo e os emigrantes.

Recorde-se que a visita do presidente a Paris coincide com o início do campeonato europeu de futebol. As esperanças dos portugueses cá de fora eram elevadíssimas e a excitação enorme (no centro de estágio de Marcoussis fiz uma sondagem sem nenhum valor científico aos portugueses e lusodescendentes que ali esperavam avistar os jogadores e todos menos um me disseram que Portugal ia à final é que seria contra a França. Assim foi).

Marcelo avistou-se com François Hollande mas horas depois estava com os atletas da seleção. E em Champigny fez um dos primeiros banhos de multidão do mandato, enlouquecendo os seguranças franceses que repetiam “se o nosso presidente fizesse isto era morto pela multidão”.

Marcelo continuou a confirmar como iam ser as suas presenças públicas quando, na festa da Rádio Alfa, demorou uma hora a chegar ao palco e ali fez mais um discurso empolgante apelando a um nacionalismo positivo e quase brincalhão aproveitando a “vaga seleção”. O presidente comparou Portugal e França, os portugueses aos franceses, dizendo sempre que eles são maravilhosos mas nós somos muito melhores.

Um mês depois, no Stade de France, as palavras de Marcelo soavam a profecia.

Quase um ano depois, no passado mês de maio, Marcelo visitou o Luxemburgo. Se excluirmos Andorra, nenhum país tem uma percentagem tão elevada de portugueses (e se contarmos os lusodescendentes o Grão-Ducado está certamente à frente). Marcelo sabe disso e a sua visita foi organizada tendo a comunidade portuguesa no centro das atenções.

Logo na noite em que chegou à capital luxemburguesa, Marcelo levou o grão-duque para a rua. O presidente pernoitou no palácio que fica no coração da Cidade do Luxemburgo e, diz-se, que logo que chegou propôs a Henrique um passeio noturno. Apesar de o Luxemburgo ser um país excecional em termos de contacto entre os cidadãos e os políticos, o grão-duque é a exceção que confirma a regra: não sai à rua facilmente e não é conhecido por gostar de banhos de multidão.

Nessa noite, Marcelo, Henrique e a comitiva foram abordados por vários portugueses entre os quais um que resumiu bem a situação ao dizer ao presidente que aquele passeio terá feito mais pela popularidade do monarca luxemburguês do que todos os discursos que Henrique proferiu.
E foi assim até ao final da visita. Marcelo concluiu a sua passagem pelo Luxemburgo com um dia de visita não-oficial para participar na maior celebração de Nossa Senhora de Fátima da Europa. O santuário de Wiltz foi o local onde Marcelo discursou para dezenas de milhares de portugueses acompanhado do grão-duque.

Curiosamente, Marcelo escolhe ficar até ao fim da festa e discursar depois de um pequeno concerto de David Carreira (para os mais distraídos é necessário explicar que DC, é assim que as verdadeiras fãs lhe chamam, é provavelmente o cantor mais popular junto das ‘teenagers’ lusodescendentes de segunda e terceira geração na Europa). O átrio do liceu de Wiltz estava a abarrotar com miúdas (e alguns rapazes) que ali estavam para assistir ao ‘showcase’ de David Carreira. Depois de vinte minutos de histeria, Marcelo sobe ao palco onde segundos antes tinha atuado DC, acompanhado pelo grão-duque (que ostentava uma gravata verde e vermelha para a ocasião). Qual não é o meu espanto ao ver, e sobretudo ouvir, que as miúdas que antes gritavam “David” passam a gritar “Marcelo” com a mesma emoção e entusiasmo, como se de mais uma estrela do rock se tratasse. Cada frase do discurso do presidente – insistindo sempre na participação cívica e política – foi pontuada com aplausos e Marcelo saiu de Wiltz deixando uma plateia ao rubro.

Tudo isto pode parecer anódino para quem observa a situação desde Portugal mas não é. O orgulho de ser português e o interesse por Portugal foi-se perdendo em muitas comunidades (talvez o caso francês seja o mais lamentável por razões que davam um tratado de sociologia) mas foi voltando, sobretudo graças ao futebol. É pena que esta seja a principal razão, mas os êxitos da seleção a partir da era Scolari reconciliaram muitos emigrantes com o seu país de origem e tornaram muitos de nós orgulhosos de sermos portugueses (e, note-se, trata-se em geral de um nacionalismo positivo, sem arrogância nem xenofobia).

Marcelo, com o seu enorme capital de simpatia e a sua proximidade com as pessoas, trouxe aos portugueses cá de fora uma nova razão para admirar Portugal. Antes das eleições francesas ouvi repetidas vezes entre portugueses a afirmação “eles queriam era ter um presidente como o nosso”.

Marcelo, a seleção e o facto de Portugal estar na moda fazem com que as comunidades se sintam melhor, mais amadas, mais felizes. Até porque os portugueses precisam de reconhecimento: se os outros nos disserem que somos mesmo bons, até somos capazes de acreditar.

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