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Lusodescendente pede a Guterres que ajude a Venezuela

Ana Maria da Costa, irmã do politólogo Vasco da Costa, atualmente preso, sonha com a liberdade do irmão, mas já só acredita nisso quando a Venezuela for livre e pede ajuda a António Guterres.

Em entrevista à agência Lusa, em Caracas, Ana Maria da Costa colocou muitas das suas esperanças para o futuro da Venezuela no português António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

E lançou o apelo: “António Guterres tem que meditar um pouco mais na sua posição. E não pode esquecer o que se está a passar na Venezuela, onde os direitos humanos são violados diariamente de uma forma brutal”.

António Guterres anunciou na segunda-feira que não vai participar em nenhuma reunião dos grupos que se estão a formar sobre a crise na Venezuela para “manter a credibilidade” da sua oferta de bons ofícios.

A ativista dos direitos humanos, por via do apoio que tem dado aos detidos por opinião política contrária à do regime socialista, lembrou que em 23 de janeiro, dia da autoproclamação de Juan Guaidó como Presidente da República interino, “havia 276 presos políticos na Venezuela. Desde esse dia até ao dia de hoje já há mil. A repressão é brutal”.

Por isso, defendeu que o secretário-geral da ONU não pode virar as costas ao país. “Há 30 mortos por violência política de pessoas que foram protestar e outras que foram só dizer a sua opinião, e eles foram mortos pelos organismos do Estado”.

Emocionada, a ativista questionou: “O senhor Guterres quando dorme à noite não tem pesadelos? Não se lembra dos mortos da Venezuela? O senhor não se compadece das mães que choram o seu filho morto. Não se compadece das pessoas que, como eu, tem familiares que são presos políticos?”

Sobre Juan Guaidó, como dado novo no ‘puzzle’ político da Venezuela, Ana Maria da Costa considerou o opositor um homem corajoso que tem feito tudo o que prometeu.

“Guaidó teve a valentia de se juramentar como Presidente da República apesar de estar numa ditadura. Ele tem cumprido tudo o que tem prometido, mas se não o ajudam, ele sozinho não pode”, explicou.

Considerou o autoproclamado Presidente interino um democrata e lembrou que desde 2007, quando ele entrou realmente na cena política, “tem lutado pela liberdade, pela justiça e pelos presos políticos.”

Disse que ia pedir ajuda humanitária “e já pediu, está a trabalhar como se fosse um Presidente da República com todo o governo contra ele”.

Em relação ao irmão, o politólogo Vasco da Costa, que já esteve preso várias vezes desde 2004, estando atualmente detido na cadeia de Ramo Verde, a lusodescendente lembrou: “em 15 anos, o Vasco nunca teve um processo ou nenhuma sentença e foi detido cinco vezes porque diziam que era terrorista. E depois soltavam-no porque era mentira”.

“No dia em que a Venezuela seja livre, o Vasco vai ser livre. As pessoas dizem-me que luto muito pela liberdade. Vou ser sincera: eu tenho mais medo do Vasco na rua do que dentro de uma prisão, porque cada vez que capturam o Vasco, é tão violenta e é tal a tortura que tenho medo que o matem, pelo menos na prisão está na prisão. O Vasco só vai ser livre no dia que a Venezuela seja livre”.

Muito desgostosa com o regime de Nicolas Maduro, Ana Maria disse que hoje em dia na Venezuela todos são prisioneiros, simplesmente porque querem que o País melhore.

“A gente quer que a Venezuela melhore, mas com o Governo do ‘chavismo’ venezuelano não vai melhorar, vai cada vez ser pior e pior”, criticou.

A posição do Governo português sobre o juramento de Juan Guaidó é bem vista pela ativista lusodescendente.

“O Governo tomou a posição que tinha de tomar. Simplesmente protegia e protege os portugueses que vivem na Venezuela. Quando chegou o momento com todo o apoio internacional, pôs-se a favor da democracia e havendo aqui dentro um movimento realmente para a recuperação da democracia, Portugal optou pelo que é justo”.

Questionada sobre a crítica que alguns fazem de que Guaidó pode ser um fantoche nas mãos dos norte-americanos, a lusodescendente exaltou-se: “Isso é conversa de comunistas. Desculpe. Aqui ninguém é fantoche de ninguém. Aqui somos democratas que queremos viver em democracia. Guaidó é um democrata que está a lutar pela democracia”.

O papel dos militares neste impasse político que se vive na Venezuela é considerado pela ativista como fundamental: “Os militares não têm querido virar para a democracia, e se calhar querem continuar a fazer parte da repressão”.

No entanto, a activista disse ter esperança de que as forças armadas se virem “para a democracia”, já que “esta é uma ditadura militar e há uma cúpula militar chavista que não quer sair disto. Não lhes interessa que o povo morra ou não morra à fome”.

Na opinião da lusodescendente, “há uma parte, sobretudo abaixo dos capitães, que quer a liberdade e a democracia porque são vítimas desta cúpula de generais corruptos”.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, de 35 anos, que recebeu de imediato o apoio dos Estados Unidos, prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, de 56 anos, chefe de Estado desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento, dominado pela oposição, como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.

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