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Luiz Sacilotto: essencialmente concreto

A arte concreta brasileira surge em meados do século XX como um dos movimentos artísticos mais importantes do país, refletindo-se na literatura, no desenho industrial, na pintura, na arquitetura, na música e na comunicação visual.

É nesse período que aparece Luiz Sacilotto, pintor, desenhista e escultor, nascido em Santo André, em 1924, que ainda jovem estudou desenho no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. “Cresceu ouvindo o barulho compassado e intermitente das fábricas, verdadeiras engrenagens do Brasil nas primeiras décadas do século XX.” (SACRAMENTO, 2010).

Em abril de 1947, participou da Mostra de 19 Pintores, o Grupo dos 19, na capital paulista. A exposição teve grande sucesso de público, sendo visitada por mais de 50 mil pessoas. Em 1952, assinou o Manifesto do Grupo Ruptura, que significava o rompimento com o figurativismo. Em 1956, participou da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com sua obra Konkrete Kunst, participou, em 1959, da Mostra de Arte Moderna da Europa. Em 1977, esteve na Mostra Projeto Brasileiro Construtivo na Arte, na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou também de algumas Bienais Internacionais de São Paulo e da Bienal Brasil Século XX.

Luiz Sacilotto dizia que sua referência de arte concreta vinha da pré-escola, mais precisamente do uniforme do colégio do padre Luiz Capra, em Santo André, “quadriculado azul sobre fundo branco para o sexo masculino e quadriculado vermelho sobre fundo branco para o sexo feminino”. Para Sacramento essa “talvez tenha sido a primeira vivência marcante de Sacilotto com as formas geométricas e as cores puras, chapadas” (SACRAMENTO, 2010).

Em 1995, numa entrevista à “Folha de S.Paulo”, o artista afirmou, “Gosto de quando a pessoa vem olhar o quadro, vê uma coisa, e de repente, vê outra. É uma provocação.”

Com uma produção artística de extremo rigor, precisão e poder de síntese, componentes fundamentais da estética concretista, o trabalho de Sacilotto preza por elementos que sistematizam o movimento, com formas geométricas que revelam um ritmo potencializado pela repetição.

Sacilotto produzia suas tintas extraindo da terra e da rocha os pigmentos. Em seguida, triturava-os com óleo, fazendo surgir uma cadeia de cores.

Em 2014, no SESC Santo André, a exposição “Audácia Concreta” sobre sua obra, trouxe importante dialogo com a linguagem contemporânea, através de vídeo mapping, técnica que consiste em projetar conteúdos audiovisuais em superfícies variadas, pequenas ou grandes, até mesmo paredes de edifícios, sendo possível também o movimento em 3D como imagem.

Vale destacar a homenagem feita ao artista, por Haroldo de Campos, no poema  Para Sacilotto / Operário da Luz:

 o quadro áureo

de sacilotto –

concreção seis mil

trezentos e cinquenta e um

mil novecentos e cinquenta

e três –

latão tridimensional polido

sabiamente

pelo escultor-operário

de esquadrias metálicas –

deixa que se abram

à superfície

pequenas ventanas triangulares

em relevo

escuras:

o deslumbre da luz aurificada

rebate-se nessas seteiras como em

buracos negros:

ao trânsito do expectador

tudo vibra

tudo entrevibra numa

(pré-op)

cinese dourada

A potencialidade criadora do poema de Haroldo de Campos expõe de maneira ímpar a obra do artista que foi Luiz Sacilotto. O poeta, através das palavras, nos aproxima do elemento material do trabalho do artista, que, orientado por suas mãos, transforma-se em obra de arte “latão tridimensional polido sabiamente pelo escultor-operário de esquadrias metálicas – deixa que se abram à superfície…”, numa tradução intersemiótica, permitindo o trânsito entre dois códigos. Toda capacidade criativa do artista é sintetizada no “latão tridimensional polido sabiamente pelo escultor”, que se transforma em ícone. O escultor-operário expande o significado, ao mesmo tempo que ressignifica “o latão tridimensional polido…”, desconstrói, recriando, adicionando forma e conteúdo.

Sacilotto iniciou sua produção de esculturas de corte e dobra em 1952. Foi ele quem mudou o conceito de escultura em metal, que para a época resumia-se em acúmulo ou retirada de material. Em vez de acumular ou retirar material, a placa era recortada e dobrada. Quando jovem, trabalhou na indústria de alumínio e começou a observar os resíduos industriais do metal que ficavam no pátio da empresa. Foi quando teve a ideia de levar algumas dessas placas ao seu ateliê para cortá-las e dobrá-las.

Em 1954, o artista criou o termo Concreção, que significa concretude da existência e ele passou a ser o título dado a todas as suas obras, que eram numeradas com o ano de sua produção.

Luiz Sacilotto faleceu em São Bernardo do Campo, aos 78 anos, em 9 de fevereiro de 2005.

Bibliografia

SACRAMENTO, Enock. Sacilotto e Barsotti na BM&F Bovespa, S.Paulo, BM&F Bovespa, 2010.

 

Sobre os autores do artigo: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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