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Joker: quem é o vilão? Uma reflexão sem spoiler

A história do Joker, um dos vilões mais populares dos quadrinhos, causa um turbilhão de sentimentos, simultaneamente. Saí da sala de cinema intrigada, tentando compreender cada emoção.

O Joker (Coringa no Brasil) era só um palhaço antes de ser um vilão. É curiosa a presença desses opostos sociais no mesmo filme! E apesar de abordar a história de vida de um palhaço, não tem nadinha de engraçado. Na verdade, nos poucos momentos que ri, me culpei pelo riso. Além do mais, senti pena de um vilão (?) e senti indignação social numa ficção vinda dos quadrinhos. Mas o sentimento principal foi comoção. É doloroso ver que a sociedade pouco entende ou não entende mesmo nada sobre a dor do outro.

Desde criança somos acostumados a lidar com aquele coleguinha que tem uma condição fora do padrão, de forma debochada e com agressões disfarçadas de piadas. Na minha época, o gordinho da turma, que usava colete para corrigir a coluna e um aparelho ortodôntico nada discreto, ficava sem companhia na hora do lanche. E olha que isso nem era lá a mais grave das histórias que pude presenciar aos 11 anos de idade. O famoso bullying – ou “mimimi” para os ignorantes e menos empáticos – é visto, por alguns, como “mais uma brincadeirinha de escola”. E não, não é. O bullying ultrapassa as salas de aula e chega na vida adulta com uma nova roupagem. É a marginalização de negros, deficientes, obesos, albinos, LGBTQI+, etc.

O vilão Coringa, ou melhor, o ser humano que pediu socorro a vida inteira e precisou se tornar um vilão para ser enxergado, viveu as dores de ser mais um excluído da sociedade. Chegou a extremos por conta também da sua saúde mental completamente debilitada. O personagem tem uma condição pouco conhecida chamada “afeto pseudobulbar” ou “labilidade emocional”, que, basicamente, faz com que ele solte gargalhadas descontroladas, principalmente em situações de tensão, raiva ou tristeza. O roteirista humanizou a famosa risada maquiavélica dos desenhos – achei isso bem inteligente.

Se você não saiu do cinema desconfortável, indignado, ou minimamente questionando o seu papel na sociedade, assista novamente e busque essa sensibilidade no seu mais íntimo. O filme do vilão do Batman não é só uma personificação de banda desenhada. É a incógnita sobre quem é o verdadeiro vilão e quem é o ser humano por trás de um rótulo. É também a história daquele que você sempre ignorou ou direcionou piadas que provavelmente só você riu.

Por mais filmes que estimulem empatia e reflexão social.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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