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Ir e voltar: ex-emigrante português cria projeto de ‘slow tour’ na Terceira

Sair da zona de conforto é, quase sempre, um desafio que abre portas para um mundo novo de descobertas. Nem todos são capazes de passar por isso, mas quem arrisca fica geralmente a ganhar. Ivo Silva é um desses casos.

Natural da ilha Terceira, nos Açores, o jovem de 37 anos tem uma história de vida peculiar que vale a pena conhecer.

Conceitos como emigração/imigração, experiência, empreendedorismo e o “voltar a casa” pintam o quadro que apresentamos a seguir.

O ponto de partida

Ivo é formado em Marketing, Relações Públicas e Publicidade (Escola Profissional de Comunicação e Imagem) e, após um estágio relacionado com a área, acabou por começar a trabalhar numa imobiliária na Terceira. “Isso aconteceu numa altura em que esse mercado não estava bem”. O fato de não se sentir realizado levou-o a iniciar uma pesquisa que acabou por ser o primeiro passo para uma mudança radical. Em 2010, viu um anúncio de trabalho para ser Relações Públicas na República Dominicana, concorreu e conquistou a vaga. Seguiu-se o fazer as malas e partir. 

Experiência no estrangeiro

A chegada ao destino não foi um mar de rosas: rapidamente Ivo percebeu que o seu dia a dia seria essencialmente centrado em vendas. Apesar dessa certa desilusão inicial, focou-se na missão e acabou por ganhar destaque entre os colegas e as chefias. “Empenhei-me e acabei por me tornar rapidamente no chefe de vendas. Ao mesmo tempo, nas minhas folgas, fui tirando o curso de instrutor de mergulho”.

Segundo Ivo Silva, a vida na República Dominicana está longe de ser como os postais e fotos que deixam qualquer um a sonhar com um cenário paradisíaco. Porém, havia um pedacinho de terra em específico que sempre o agradou: Bayahibe (vale a pena googlar e deixar-se deslumbrar pelas imagens!). “Eu amava aquilo!”, confessa. Após terminar o curso de instrutor de mergulho (e ainda sem muita experiência), foi convidado para ser chefe dos instrutores nessa localização realizando assim um sonho meio que por mero acaso.

O ponto de viragem 

Ao todo, o açoriano viveu quase 10 anos longe de casa. “Vinha uma vez por ano a Portugal visitar a família e aproveitava para viajar um pouco pela Europa”. A hora de voltar para a República Dominicana depois das férias nunca lhe custou muito até que, em 2018, começou a notar uma mudança no volume de turismo na Terceira. Além disso, as saudades começaram a apertar. “Tudo isso começou a despertar em mim uma certa vontade de voltar. Mais ou menos na mesma altura, recebi propostas para trabalhar nas Maldivas e em Timor, mas acabei por decidir regressar à Terceira no verão de 2019”. Dizer adeus às Caraíbas foi “uma tarefa complicada porque fiz muitos amigos e tinha lá uma ‘família’ e laços muito fortes. Vivi experiências que jamais esquecerei.”  Felizmente, esse regresso aconteceu já com um trabalho garantido na área do turismo.

A sua experiência nessa empresa de animação turística como guia durou dois anos, o tempo suficiente para aprender mais sobre o turismo nos Açores (“que em nada é igual ao que estava habituado”), faturação, contabilidade, etc. Além disso, Ivo acabou por perceber que trabalhar com os colaboradores da ilha não é fácil e que todos as tours são iguais: “são os guias que fazem a diferença”. 

Empreender

Em 2021, quando o seu contrato de trabalho estava a chegar ao fim, um familiar perguntou-lhe porque é que ele não arriscava abrir a sua própria empresa. “Inicialmente eu achava que era uma loucura e um risco elevado, mas depois de analisar vários fatores acabei por concluir que seria uma boa aposta. A partir daí foi um processo que implicou algum trabalho.” A semente estava plantada e assim nasce a Terceira Tours, um projeto que levou cerca de 6 meses ser posto em prática. “Nesse momento, a ajuda da Start Up Angra foi essencial por ser a sede do meu escritório, um ponto de apoio e de interajuda – o dar e receber ali é real; Saio de lá sempre focado e é essencial ter orientação ao nível do planeamento e desenvolvimento de ideias.” Além disso, Ivo conta com a força, motivação e inspiração dos seus pais, esposa e família em geral – “isso, para mim, é meio caminho andado para o sucesso.”

Marcar a diferença

Mas em que é que esta empresa se distingue das outras relacionadas com turismo? “Essencialmente no ritmo e adaptação às necessidades e desejos dos clientes. Uma coisa é mostrar a ilha e outra coisa é fazer com que as pessoas sintam a ilha. E o que eu quero é que a sintam.” É possível escolher fazer passeios privados, personalizados ou optar por tours pré-definidas. A opção personalizada deixa tudo na mão do cliente – “quero que as pessoas façam aquilo que gostam e não apenas aquilo que eu acho que seria melhor”. Ivo promete levar quem aposta em si a lugares únicos que permanecem desconhecidos até para muitos dos habitantes locais. E o melhor é que isso tudo se passa evitando as massas e os espaços lotados. “Em todos os meus tours, tenho um momento em que abandono as pessoas no meio do mato, para elas estarem sozinhas em comunhão com a natureza, para se sentarem, apreciarem, sentirem… É um momento de pura contemplação.”

Já o conceito de “slow tour”(adaptado de “slow travel”) torna a experiência especialmente única: “os passeios lentos enfatizam a conexão com a comunidade local, a cultura, a comida, a música e a natureza. Quero ter um impacto emocional, no presente e no futuro dos nossos visitantes, mantendo-nos sustentáveis para a nossa comunidade e o meio ambiente.”

E, de fato, a sustentabilidade assume aqui uma importância extrema: “Acho que o dinheiro/riqueza não pode ser focado apenas em alguns, é importante fazer parcerias que permitam uma distribuição mais justa e sustentável. Por exemplo, defendo que onde os locais comem é onde se come bem e é aí que levo os meus clientes – aos restaurantes mais pequenos, menos turísticos e onde as pessoas que vivem na ilha costumam ir no seu dia a dia. Apoiar os pequenos produtores/empresários (que são os que têm mais essência e mais para dar), ajudar a comunidade, integrar os locais e evitar os grandes produtores faz toda a diferença.”

Os tours são feitos em português, inglês ou espanhol (as três línguas que domina). Todos os clientes recebem um vídeo da experiência feito com imagens captadas no próprio dia – um mimo extra que tem agradado a todos pelo significado e empenho.

Os desafios

Como em todos os negócios, as dificuldades existem: “é complicado fazer parcerias por falta de interesse das outras partes e também por falta de tempo; os dias de fecho de alguns restaurantes também acabam por ser um obstáculo. Além disso, os preços baixos da concorrência dificultam tudo, já para não falar no “mercado ilegal de turismo””. Ivo não sabe o que o futuro lhe reserva mas gostaria de ter mais tempo para o backoffice e para planear/executar mais ideias. Uma coisa é certa “não quero apoios porque isso traz compromissos e eu não me quero sentir “preso” em termos de liberdade criativa do negócio.”

Balanço

Ivo sorri ao revelar que o projeto tem superado todas as suas expetativas: “O feedback é muito positivo, não esperava que as pessoas gostassem tanto. Esta aventura implica trabalho, mas ver a reação positiva das pessoas não tem preço”. Sobre o público que mais tem aderido à sua ideia, o jovem não tem dúvidas: “são as pessoas dos E.U.A., Canadá, Suíça, Inglaterra e também portugueses (imigrantes e residentes no continente) que mais me procuram.”

Apesar da Terceira Tours ainda ser uma empresa “bebé”, Ivo Silva já tem planos para moldar, alterar e melhorar alguns detalhes do seu produto: “este primeiro ano tem sido de pura aprendizagem mas tenho muitos planos para por em prática e a certeza de que eles tornaram as experiências ainda mais inesquecíveis para mim e para quem aposta no que eu faço”.

Saiba mais:

Site: https://terceiratours.com/terceiratours/
Instagram: https://www.instagram.com/terceiratours/
Facebook: https://www.facebook.com/TerceiraTours/
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCtO5aCStifzUCwmsU9I9u8A
Whatsaap: https://api.whatsapp.com/send/?phone=351927233876&text&type=phone_number&app_absent=0

Texto de Fabiana Bravo

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