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Começar tudo de novo

Ainda não se percebeu muito bem quais serão as consequências da crise pandémica nas migrações. Será necessário esperar pelas estatísticas de cada país para se perceber melhor o impacto da pandemia nos fluxos migratórios, designadamente no regresso ao país de origem. Mas percebe-se que os migrantes estão a ser afetados, porque sempre que há uma crise, seja qual for a sua natureza, são sempre eles as populações mais vulneráveis.

Ivan Krastev, no livro “O Futuro por Contar”, diz que cerca de 200 mil búlgaros residentes no estrangeiro regressaram ao país por causa da pandemia. O mesmo aconteceu com muitos portugueses e cidadãos de outros países.

É uma evidência que alguns setores onde tradicionalmente trabalham muitos portugueses foram bastante afetados, desde logo o turismo, hotelaria, restauração, mas também em trabalhos sazonais, alguns serviços e outras ocupações mais informais. Porque muitas vezes estão a trabalhar sem rede nem proteção social, perdem rendimentos e as despesas tornam-se insustentáveis, ou porque são jovens e ainda não criaram raízes, o regresso às origens torna-se uma opção incontornável.

Se não tivesse chegado a pandemia, muitos deles provavelmente teriam continuado a fazer a sua vida no estrangeiro, a criar raízes e muitos nem sequer voltariam definitivamente para o país, a não ser, talvez, para gozarem a reforma. Em tempos de mobilidade acelerada até poderiam andar de país em país até se cansarem, como hoje é prática comum.

Todo estas pessoas tornaram-se vítimas inapeláveis da pandemia e moldam as migrações do presente. O grande problema é que regressam aos seus países de origem num contexto de crise global, de depressão económica e aumento do desemprego.

E, em tempos de crise global, é sempre o nosso país e a nossa casa que oferecem a segurança que precisamos, junto da família e dos amigos e das regras que já conhecemos. Mas nem por isso deixa de obrigar a que, mais uma vez, se comece tudo de novo.

Paulo Pisco

Deputado do PS

 

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