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Hora de reflectir sobre a educação?

Já estou há uns dias em casa de quarentena, o que me tem dado tempo para pensar em coisas que normalmente não daria tanta atenção. Os meus dias têm sido muito monótonos, mas eficientes. Devido ao meu mestrado e à flexibilidade educacional dinamarquesa, o meu semestre continua a decorrer só com algumas diferenças, tal como aulas online, entre outras.

Durante este método individual de obtenção de conhecimento, apercebi-me que “self-education”, ou seja, aprendermos connosco, é a principal chave neste processo. Isto é, de nada vale ter o melhor professor do mundo se não tivermos a capacidade de transformar a informação em conhecimento para o colocar em prática.

Esta análise simplista levou-me a outra questão. Qual o papel do sistema de ensino no meio disto tudo? Não basta só dizer que as escolas estão desatualizadas, precisamos de perceber porque é que o sistema de ensino de há 30 anos não faz sentido nos dias de hoje.

Nessa época, a principal missão de uma escola era a transmissão de informação. Os alunos chegavam a uma sala de aula, sentavam-se durante horas a ouvir alguém com mais conhecimento sobre uma determinada área, tomavam notas, carregavam livros de centenas de páginas e iam-se embora. Na minha opinião, e segundo as necessidades que mundo exigia naquela altura, foi uma grande estratégia. Até porque a informação que chegava aos demais, já teria sido censurada anteriormente.

Mas o que podemos ensinar a um jovem que tem acesso a mais informação num aparelho digital, atualmente, do que qualquer “antigo” tinha em centenas de páginas? Adicionando o facto que atualmente pouca informação é censurada. Basta olhar para as fake news.

Vamos por pontos, até agora temos a autoeducação como principal forma de aprender e novas fontes de acesso à informação.

Assim sendo, as escolas perdem a vantagem comparativa de transmissão de informação relativamente a um portátil ou a um telemóvel. Então, o que me leva a ir para a escola se posso ouvir um vídeo do melhor professor de Harvard a falar sobre o mesmo assunto sem sequer sair de casa?

Não estou com isto a dizer que o sistema de ensino não tenha uma missão necessária nesta sociedade moderna. Quero sim dizer que as escolas têm uma nova missão. Preparar para o futuro. Certamente todos nós já ouvimos isto, mas o que quer isto dizer exatamente? Como preparar pessoas para algo que não sabemos como será?

Comecei por ter em conta Charles Darwin, que nos lembra que não é a espécie mais forte ou inteligente que sobrevive, mas sim aquela com maior capacidade de se adaptar à mudança. Parece-me um bom início de pensamento.

Sugeria que pudéssemos preparar os jovens para algo que seja mais direcionado para desenvolver o tal espírito critico que toda a gente fala, a colaboração, a criatividade e, por fim, mas não menos importante, “aprender a aprender”. Como aprendizes temos diferentes formas de trabalhar informação, de forma cinestésica, visual ou auditiva. Então porque é que temos todos de aprender de forma igual? Sentados a olhar para um quadro, quando eu retenho informação a andar de um lado para o outro e a falar alto? Na visão clássica da escola seria mais um aluno “burro”, quando na verdade tenho é apenas outras formas de tratar informação e torná-la em verdadeiro conhecimento.

Algo que eu acho que seria extremamente inovador era o facto de ajudarmos, agora mais que nunca, a preservar o equilíbrio mental em situações desafiantes. A saber tratar as nossas emoções, pensamentos, o sentido de autodisciplina, entre outras. Que o Covid-19 nos ajude a perceber a importância deste fator.

Não acredito em soluções perfeitas nem em revoluções. Acredito em inovações incrementais e em evolução. Mas não podemos pedir aos nossos professores que sejam criativos e inovadores quando maior parte deles estão em pleno burn-out ou em depressões. Com a tecnologia disponível atualmente torna-se difícil de acreditar que um professor ainda tenha de corrigir dezenas de testes e preencher dezenas de relatórios, tudo isto depois de terem um dia preenchido com aulas. É mesmo difícil de acreditar!

A evolução da educação é uma missão de todos nós. Todos nós temos algo a fazer!

Será divertido quando lá para 2100 contar uma história sobre 2020. O ano em que uma pandemia mudou o mundo, para melhor.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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