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Hoje é dia de “Vaca das Cordas”

Um touro com 450 quilos de peso chegou terça, ao início da tarde, a Ponte de Lima, para cumprir na quarta-feira, às 18:00, a tradição secular da ‘Vaca das Cordas’, revelou à Lusa fonte da organização.

Segundo o presidente da associação “Amigos da Vaca das Cordas”, Aníbal Varela, que há 35 anos organiza o ritual, o animal veio de uma ganadaria de Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra, para cumprir uma tradição, que este ano, “regressa à data inicial”.

Nos últimos três anos, devido à suspensão do feriado do Corpo de Deus, aquela festividade realizou-se sempre na sexta-feira.

Aníbal Varela, que recebeu do avô a “missão” de organizar a tradição, não receia que as previsões meteorológicas que apontam para a queda de chuva prejudiquem a festa.

“A Vaca das Cordas arrasta sempre multidões. Não há nada, nem o São Pedro que afaste os limianos e os visitantes da Vaca das Cordas”, garantiu.

A tradição da ‘Vaca das Cordas’ obriga a que o animal – que afinal é um touro -, saia para a rua pelas 18:00, conduzido por cerca de dezena e meia de pessoas e preso por duas cordas. É levado até à Igreja Matriz e preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, “lombo abaixo, para retemperar forças”, conforme reza o costume local.

Dá depois três voltas à igreja, sempre com percalços e muitos trambolhões à mistura dos populares que ousam enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila, dando lugar a peripécias, com corridas, sustos, nódoas negras e trambolhões e até pegas de caras amadoras.

Nas ruas do Centro Histórico irá cumprir-se, madrugada dentro, a confeção dos tapetes floridos, por onde irá passar a procissão do Corpo de Deus.

A mais antiga referência que se conhece da ‘Vaca das Cordas’ remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.

Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis. Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um tempo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.

Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da “deusa vaca” e com ela deram três voltas à igreja, após o que a arrastaram pelas ruas da vila, para alegria de todos os habitantes.

Daí virá o costume da ‘Vaca das Cordas’, um ritual que foi interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar.

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