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Férias de verão: emigrantes dizem que há pouca vida nas aldeias portuguesas

Quando Albino Moreira chegou de França para passar este agosto em Vilarinho da Castanheira, Carrazeda de Ansiães, “parecia um cemitério, não parecia aldeia”, que não é mesma sem a festa de verão e gente na rua.

Devido à pandemia covid-19, não há festas, não há abraços, nem convívio e os reencontros são distantes nesta e em todas as aldeias do distrito de Bragança.

“Se soubesse não tinha vindo, não tem nada a ver com os outros anos”, desabafou à Lusa este emigrante, garantindo que “com 69 anos, nunca tinha visto uma coisa assim”.

“Quando a gente chegava era uma alegria, toda a gente se juntava-se. Hoje às onze, meia-noite entra tudo para casa, só se veem luzes acesas, não se vê ninguém”, ilustrou.

“A festa faz falta? Então não faz”, responde à pergunta que é também sinónimo de lamento em Lamas, aldeia junto à cidade de Macedo de Cavaleiros.

Numa das ruas da localidade, ouve-se música de alguém mais atrevido que teima em dar alguma alegria aos dias tórridos de agosto, que dois idosos tentam amainar à sombra da soleira da porta.

Para passar o tempo, outra habitante prepara, na entrada de casa, as vagens de feijão que hão de secar para se transformar nas casulas que acompanharão, no inverno, o tradicional butelo, enchido de ossos do fumeiro transmontano.

Num dos cafés da aldeia, um grupo que está de férias na terra, joga às cartas, enquanto outros poucos passam o tempo sentados.

“Está um bocado complicado, não podemos dar beijos uns aos outros, não há gente, não há festas, anda tudo cheio de medo”, atira Manuel Luís que vive entre cá e lá, em França, segundo disse à Lusa.

São de poucas falas, mas sempre vão partilhando que, se não fosse a pandemia, estes dias seriam uma semana e meia de festa na aldeia, com o bar da praia instalado no largo.

Este ano só houve a missa e o verão está a ser “diferente, não há gente e as pessoas têm medo”, aponta Bárbara Carreira, a jovem de 22 anos atrás do balcão do café.

Desde que o espaço abriu depois do confinamento, há gente que ainda não ali voltou.

Os emigrantes, que entretanto chegaram à aldeia, “não saem muito, nem para fazer compras, nem para passeios”.

Nos outros verões, enchiam o café. Neste, vão tomar café e voltam para casa. “A aldeia já é fraca e desde a covid agravou-se”, observa.

Este é o grande impacto da pandemia na aldeia onde “os custos de vida são menores” porque, “se não há dinheiro, há agricultura”.

“A crise não foi tão forte por causa da agricultura. Aqui plantam, fazem o pão, criam os bichos”, contou Bárbara.

Os meses antes do verão forma complicados para o presidente da junta, Leonardo Vila Franca, que lembra como custou convencer os mais idosos a protegerem-se do vírus até surgirem os primeiros casos positivos na aldeia.

Agora é o contrário, têm medo, é difícil tirá-los de casa.

Na pandemia, “parecia uma aldeia fantasma” e agora é uma aldeia triste como todas as outras porque “falta a festa, e o povo sem uma festinha….”

“Vinham pessoas de outros sítios à festa e isso faz falta às aldeias”, lamentou.

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