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Explicando melhor a “Meteorologia dos Níveis de Stress”

© DR

Se alguém encontrasse o antropólogo Júlio Machado Vaz a tomar uma bica na Versailles, ou no Majestic, ou no Nicola, e lhe apontasse com uma pistola castanho escuro à cabeça, ficaríamos nervosos?

Claro que sim. Especialmente se ninguém pudesse decidir o desfecho desse insólito episódio.

Mas relaxe, ele não iria morrer sem antes nos dizer os 10 melhores discos de música para relaxar e nos fazer gostar ainda mais de música.

Ele iria certamente dizer, “Faça tudo o que quiser comigo mas não me mate.”

Ao que o sujeito homem iria certamente retorquir, “Só quero uma coisa, diga-me já os 10 melhores discos de música para todos nós relaxarmos e ficarmos a gostar ainda mais de música”.

Ao que ele responderia, “Todos eles são da Deutsche Grammophon e de composições de Robert Schumann. Mas você gosta assim tanto de música erudita?”

Pouco depois, o sujeito homem começaria a soluçar e a fazer sons muito esquisitos que pareciam mais de um ganso do que de um pato, e que fariam todos os clientes pôr os seus  fones de ouvido da Apple Beats nos ouvidos para fingir não estarem a ouvir nada.

Depois percebia-se que a pistola castanha escura era na verdade uma bisnaga cheia de Atropina diluída em Água Oxigenada, e que o sujeito homem estava a transmitir tudo na nova e mais sofisticada aplicação de software peer-to-peer para fazer live streams para número ilimitado de pessoas na internet.

Mas todas as raparigas se punham de joelhos a rezar o Pai Nosso, e o sujeito homem, aterrorizado, desmaiava antes de engolir o tão precioso líquido letal. E seria um caso tão mediático em todo o mundo que o sujeito homem seria levado para o Teatro da Welcome Trust, em Londres, onde iria viver até ao final dos seus dias.

Júlio iria viver para sempre com esse trauma mas desde então ficava a gostar ainda mais de toda a obra do compositor Austríaco.

Nem sempre na vida se consegue um final feliz, mas pelo menos temos as músicas de Taylor Swift, o que já não é nada mau e nos deixa bastante felizes.

Mas será que há alguma coisa neste mundo que realmente nos relaxe e consiga esse feito quase impossível de sanar as nossas mentes?

Numa altura da minha vida em que recebi um avultado montante que me estava destinado há vida adulta, guardado no banco pelo meu tio, Professor Catedrático de Filosofia e Lógica Modal, em Lisboa, gastei uma pipa de massa em maquinetas que vinham do Estados Unidos que para além de serem caríssimas já por si, ficavam exorbitantemente mais caras com as taxas de alfândegas que era obrigado a pagar para as poder receber.

Entre muitas das maquinetas, quase todas na loja online “toolsforwellness”, ainda hoje de pé, incluíam-se uma muito semelhante ao Remee Lucid Dream, que na altura era mais popular do que esta última e da qual já nem me lembro muito bem o nome, mas também o WaveRider (cujo manual de instruções em pdf se encontra muito facilmente na internet, com uma simples pesquisa).

E ainda o Alpha-Stim, que na altura era bem mais caro do que hoje porque não havia a concorrência de produtos em tudo semelhantes que hoje podemos comprar em qualquer farmácia por um preço muito mais em conta, especialmente se tivermos pilhas recarregáveis em casa e o seu correspondente carregador e medidor dos níveis de carga restante nas nossas pilhas que não usamos há já não sei quanto tempo, o que nos poupa imenso dinheiro e facilita a vida.

Também tinha maquinetas em tudo semelhantes às usadas pela Igreja da Cientologia e cada vez mais usadas pelos nossos psicólogos, a nosso pedido, especialmente quando não somos particularmente religiosos mas reconhecemos o condão dessas tecnologias. Muitos temem o poder purificador dessas tecnologias e sem tardar começarão a nos falar em cenários distópicos como o da obra do escritor George Orwell, “1984”. Esquecendo que: ou confiamos nos nossos terapeutas e queremos que ele nos conheçam e compreendam o melhor possível, no sentido de nos libertar. Ou não. Ou queremos democratizar o poder da vigilância, descentralizando-a. Ou não.

Como disse aqui no BOMDIA, num texto anterior:

“Com o progresso da tecnologia é muito improvável que alguém possa evitar que os governos tenham sistemas de vigilância mais difundidos.

Como os teremos, teremos apenas duas opções:

1) Deixá-los nas mãos de poucos: os poderosos, os governos, o estado policial, as elites.

ou

2) Democratizá-los usando a tecnologia “blockchain” e projetos “kickstarter” de hardware e software de código aberto, fornecendo acesso público a todos esses dados para todos os cidadãos e sistemas de Inteligência Artificial.

Acho que a segunda opção é aquela que pode evitar os abusos totalitários com os quais as pessoas geralmente se preocupam.”

Adiante.

Um outro desses curiosos brinquedos era uma coisa completamente inanimada, que se bem me lembro tinha o nome do seu inventor e que consistia em duas redes de cobre que pareciam a parte retangular dos mata-moscas com que batemos nas paredes sem conseguirmos acabar com elas. Uma das redes era para ser posta, quando deitados de costas a relaxar, no tórax por trás das costas, e a outra era posta mais abaixo, na zona dos rins. Uma das redes tinha um cabo de cobre que ligava a um cilindro de cobre que iríamos ter numa das mãos e o outro à outra das mãos. Supostamente eles fechavam um circuito energético no nosso corpo que nos iria ajudar a adormecer. Com alguma surpresa, verifiquei que tinha os resultados esperados. Apesar disso, passadas algumas semanas de os usar, verificava que eles já não tinham o mesmo efeito relaxante e restabelecedor que tinham quando estavam novos. Como se ficassem facilmente gastos, deixavam de fazer efeito gradualmente quanto mais os usava. Até hoje não sei o por quê. 

E na verdade era rodeado de todo o tipo de instrumentos e objectos insólitos, desde gemas, cristais e pedras preciosas que usava sentir as suas energias, a estetoscopios e outras coisas inusitadas. O apartamento T1 onde eu vivia, na Av. Afonso III, que eu alugava à Seguradora Império e que me veio a criar um sério problema na base de uma das cláusulas sinistras do seu contrato, que eles exploraram sem piedade e da qual só me livrei graças ao meu avô Alexandre que muitos anos mais tarde me contou toda essa história e imbróglio de que me livrou, no seu gesto terno. Mas no que eu gastava mais dinheiro era em livros, quiçá apenas para os ver melhor, para os cheirar e para lhes poder tocar e sentir o peso.

Para explicar melhor o que é isso a que eu chamo de a “Meteorologia dos Níveis de Stress” é importante compreender o quão impressionante pode ser a experiência de vermos como com uma dessas maquinetas que podem ser usadas como termómetros dos nossos níveis de stress, que usam a tecnologia GSR (Galvanic Skin Response, ou em Português, Galvo Senso Resposta) que todos — com medo do desconhecido — tentam a todo o custo manter secreta e que nós continuamos a divulgar o mais possível, podem ser usadas para notarmos o quão facilmente conseguimos visivelmente e atestadamente baixar esses valores.

É simplesmente incrível como uma pequena e simples tecnologia, incrivelmente barata e fácil de usar, pode ser tão transformadora de toda a nossa maneira de pensar e de estar. Acho que depois de nos apercebermos o quão os nossos ambientes, especialmente do ponto de vista visual e auditivo (mas não só, uma vez que temos pelo menos 5 sentidos), e os nossos pensamentos, mantras e respiração, podem radicalmente mudar os nossos níveis de stress, que podemos então facilmente ver nesses medidores electrónicos. Se você tiver essa experiência que eu tive pouco depois de me tornar um adulto, e ficar realmente indiferente a ela, então não sei. Mas diga-me. Isso também (quem sabe?) pode ser importante.

Tudo pode começar com um sketch da turma de comediantes (e sua cambada de profissionais) de Ricardo Araújo Pereira. Se fosse só um deveria ser muito bom. Especialmente para que quiséssemos mais… “Já devia ter sido ontem, mas amanhã também teremos certamente que fazer”.

A ideia de que um mundo com muito menos pessoas cheias de stress iria se tornar uma chatice e que em pouco tempo nos iria aborrecer ver tudo e todos a ver quais os conteúdos do TiKTok que mais relaxam, fazendo as pessoas preguiçosas e dorminhocas, em vez de as pôr a trabalhar e produzir mais. O que é totalmente falacioso, uma vez que todos os grandes cientistas e estudiosos sabem que quando temos as nossas mentes relaxadas, por exemplo ouvindo as mais apreciadas obras de música Barroca, maximizamos os resultados do nosso intelecto, produzindo muito mais e com muito mais qualidade e excelência.

Se jogarmos jogos desenhados para relaxar as nossas mentes e as activar de um modo positivo, como por exemplo os do website Lumosity ou, outro exemplo, o jogo para Sony Playstation com o título de “Flower”, desenvolvido pela Thatgamecompany, seguramente vamos melhorar significativamente os nossos resultados e produtividade. Devia aliás haver mais estudos científicos indicativos do tipo de conteúdos e jogos mais propensos a melhorar esses nossos resultados e excelência.

Nas aulas os alunos devem estar relaxados e o menos stressados possível, pois isso comprovadamente melhora a concentração e os níveis de aprendizagem. No entanto quando estamos relaxados tendemos a ter sono pelo que é importante que todas as escolas tenham uma boa iluminação e que os alunos com tendência para a sonolência possam usar uma lâmpada portátil na sua secretária (de 10 a 15 mil unidades de lux) para as despertar sem terem de recorrer a drogas estimulantes.

Mas no fundo, a minha ideia resume-se a isso, a tornar mediática e altamente estudada de todos os pontos de vista científicos, a previsão e medição dos níveis de stress que os conteúdos dos meios de comunicação social.

Por exemplo, nesse espaço (tal como seríamos avisados de aguaceiros se isso estivesse previsto pela Ciência), poderíamos ser avisados da hora exata e do canal onde estavam previstos os maiores e os menores picos de stress e depois verificar o grau de exatidão de todas as previsões no sentido de as continuar a aprimorar e analisar, tirando todas as devidas conclusões e motivando todos a melhorar os conteúdos no sentido de mais e mais excelència de conteúdos. 

Talvez volte a escrever sobre este assunto quando achar pertinente e precisar de explicar ou esclarecer mais sobre todas estas questões e reflexões.

Daniel Alexandre

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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