Parece que passaram anos, mas foi há pouco mais de um mês que o presidente do Sporting, Frederico Varandas em entrevista à RTP, passou em revista os seis anos que já leva como presidente do Sporting. Para quem está esquecido, a actual direção tomou conta depois do ataque à Academia e agarrou num clube em desordem. É portanto natural, que seis anos depois e com o clube a respirar saúde financeira e desportiva, Frederico Varandas se tenha apresentado como um presidente de sucesso.
Lembro-me de na altura pensar para com os meus botões, que “em fortuna tudo são mudanças” e que será na adversidade que se veria a solidez das fundações leoninas. Pois bem, uma semana depois o Manchester despede o Ten Hag e vem buscar o Amorim a Alvalade. Caiu o Carmo e a Trindade, subiu o João Pereira a treinador principal.
Por enquanto a aposta no novo treinador não parece correr bem, mas isso é o menos. Como bom sportinguista que sou, tenho uma fé inabalável de que amanhã sim, amanhã é que a equipa vai voltar a marcar golos e ganhar jogos. Se passei boa parte da vida a ver o Sporting falhar títulos, se me lembro como se fosse ontem do 3 a 6 que levámos do Benfica, não há-de ser uma derrota contra o Santa Clara que me vai tirar o sono.
Mas o actual momento do Sporting chama-nos a atenção de que, neste mundo, falhar é a regra. E o sucesso a excepção. Tomemos como exemplo a empresa onde trabalho. Durante a pandemia do Covid quase fechou portas, depois lá se conseguiu endireitar, cresceu e este sábado ajudei a fazer as mudanças para o novo edifício. E quem sabe, no futuro poderá ir à falência tal como foram tantas outras empresas no passado. A incerteza do futuro é algo inerente à condição humana. Apesar disso, comportamos-nos como se o normal fosse sempre tudo correr inevitavelmente bem. Até ao dia em que nos cai o chão debaixo dos pés, e nos vemos perdidos no escuro, sem estrela que nos alumie ou guie.
Como sucedeu com o Covid, a guerra na Ucrânia, em Israel ou maluqueira que se advinha de mais quatro anos de Trump como presidente do EUA. Nas últimas três, quatro décadas os políticos europeus habituaram-se a viver num mundo de prosperidade. A democracia, os direitos humanos, a união num continente com séculos de guerra, era algo orgulhosamente europeu. Um mundo de tranquilidade que permitiu a inutilidades do calibre de Ursula von der Leyen e António Costa ocupar os lugares cimeiros da União Europeia. Mas fora de Bruxelas a contestação popular não para de subir. Por todo o Leste Europeu, é fácil encontrar políticos eleitos que não escondem as suas simpatias pela Rússia ou ditaduras em geral. Já no lado Ocidental, temos o Vlaams Brabant e o Reform UK a crescerem, a Le Pen e o Chega que não desaparecem, e nacionalismos efervescentes em Espanha. No leste ou no ocidente, nada une esta gente excepto serem contra o sistema. São a nossa forma de lidar com o falhanço de um projecto europeu que perde cada vez mais relevância mundial. São a nossa forma de mostrar incompreensão perante o insucesso.
Por agora estes radicalismos são o escape possível. Alguns, chegarão ao poder onde vão poder mostrar, pela enésima vez na História, que ser do contra não é um programa de governo. O que virá depois não sei, mas olhando para trás não tenho grandes esperanças. Aquando o Covid, vários governos europeus andaram entretidos a tentar comprar o escasso equipamento médico primeiro que todos os outros. O governo inglês, sob Boris Johnson, parece que chegou mesmo a ponderar a hipótese de invadir a Holanda para gamar vacinas. É rebuscado, mas a política inglesa após o Brexit parece uma novela de mau gosto.
Podemos nos queixar de que não há hoje políticos honestos ou capazes de sacrifícios, como por exemplo o foi Churchill. Mas não nos podemos esquecer se esses políticos existissem, nós provavelmente também não voltaríamos neles. O Churchill, por exemplo, em 1940 foi primeiro-ministro por escolha do Parlamento e não devido ao voto popular, que aliás perdeu nas eleições de 1945.
Talvez por isso, seja então o momento de nos lembrarmos de uma música dos Xutos, escrita em 1985 quando Portugal se insuflava com a entrada na CEE, e deixava para trás as misérias dos anos pós-revolucionários. Numa época em que todo e qualquer português tinha em si “todos os sonhos do mundo”, cantavam os Xutos no “Homem do Leme”:
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder…
Nelson Gonçalves