Está a usar-se IA para estudar imagens rupestres. Ideia foi portuguesa
Um consórcio composto por arqueólogos de Mação e de Tomar e especialistas em ciências computacionais estão a aplicar um “projeto pioneiro” para o “estudo da milhões de imagens de arte rupestre através da Inteligência Artificial” (IA).
“O objetivo deste projeto é começarmos a lidar com grandes inventários de sítios de arte rupestre, com grandes coleções de figuras de todo o mundo, e analisá-las de modo bastante mais objetivo e rápido, tendo em conta que hoje em dia os trabalhos de arte rupestre focam-se muito na documentação sistemática dos sítios, mas depois falta uma ferramenta que nos ajude a analisar todas as evidências, quantidades de figuras, que tipo de figuras temos, as associações, e as sobreposições sobre elas”, disse hoje à Lusa a arqueóloga Sara Garcês, tendo destacado a importância da divulgação do projeto no contexto do Dia Europeu da Arte Rupestre.
Para a arqueóloga e investigadora principal do consórcio, esta “é uma comemoração extremamente importante para dar a conhecer este projeto porque, se os objetivos forem totalmente alcançados, e que penso que poderão ser facilmente, este projeto tem todo o potencial para mudar aqui o panorama não só da documentação dos grandes sítios de arte rupestre, mas principalmente na maneira como analisamos e estudamos estes sítios”, já “identificados, mas ainda não estudados” cientificamente.
“E claro, mudando os paradigmas para melhor, em relação a como estudar sítios de arte rupestre, vai ser uma ferramenta extremamente útil, não só no âmbito académico, mas também, e principalmente, no âmbito da conservação destes sítios de arte rupestre o que é exatamente isso que o Dia Europeu da Arte Rupestre comemora”, declarou.
O projeto RA3I – Rock Art Analysis With Artificial Intelligence, liderado pela empresa Techframe, SA, num consórcio composto pelo Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e pelo Instituto Terra e Memória (ITM), de Mação, foi contemplado com um apoio de 1,7 milhões de euros no âmbito do Compete 2030, para a implementação de um processo que alia a inovação à ciência, através da IA aplicada ao estudo da arte pré-histórica.
“O RA3I vai dar um contributo significativo à compreensão de uma das mais antigas formas de expressão humana – a arte rupestre -, enquanto impulsiona o desenvolvimento de soluções tecnológicas no domínio da inteligência artificial aplicada às ciências sociais e humanas”, disse à Lusa Carlos Mora, CEO da Teckframe.
Com este projeto, declarou, “abre-se uma nova janela para o estudo da arqueologia em todo o mundo, com novos métodos de estudo tecnologias alinhadas com os mais recentes desenvolvimentos do estado da arte, aplicados à arte pré-histórica”, através de algoritmos criados para o efeito.
“Constituída esta base de dados, que a prazo será gigante, porque o objetivo de utilização do sistema é a nível mundial, depois aplicará algoritmos (…) para encontrar padrões (…) e não existia, tanto quanto é do nosso conhecimento, nenhum projeto que tenha esta dimensão e esta profundidade neste campo”, destacou Mora, para quem “o impacto pode ser imenso porque o sistema vai permitir compilar informação que até hoje não existe”.
“Não existe uma base de dados completa tão ampla quanto este sistema potencialmente poderá ter, o que nos permitirá, eventualmente, ir buscar descobertas completamente originais. Estamos todos expectantes com essa possibilidade”, declarou o CEO, que é também docente do IPT e investigador em IA e em processamento avançado de imagens.
Destinado a todos os profissionais e instituições dedicados ao estudo da pré-história, o RA3I pretende ser “a ferramenta mais avançada disponível para o setor”, que “combina o estudo da ciência da humanidade com o desenvolvimento tecnológico”.
Em declarações à Lusa, Luís Oosterbeek, docente do IPT e presidente do ITM, de Mação, frisou que “a inteligência artificial abre possibilidades completamente novas, por várias razões, desde logo porque consegue manipular quantidades astronómicos de dados que nenhuma mente humana consegue trabalhar sozinha ou mesmo em equipa”, tendo feito notar que o projeto envolve especialistas de todo o mundo.
“Nós tivemos o cuidado de contactar os responsáveis dos principais programas de investigação em arte rupestre a nível mundial e muitos deles são consultores neste projeto, colegas na África do Sul, na América do Sul, na Austrália. Portanto, temos essas pessoas articuladas connosco, e não há nenhuma outra equipa a fazer isto de uma forma sistemática como nós”, declarou.
Segundo a Techframe – Sistemas de Informação, o projeto português ‘RA3I – Rock Art Analysis With Artificial Intelligence’ é uma iniciativa que pretende desenvolver novos métodos de estudo aplicados à arte rupestre.
“Dá suporte a arqueólogos e investigadores especializados em arte pré-histórica, ao disponibilizar ferramentas para a interpretação, catalogação e exploração de figuras e pictogramas, dos quais serão extraídos novos dados que podem delimitar processos de influência e de permanência de povos em diferentes partes do mundo”, pode ler-se, em comunicado.