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Esses portugueses escolhidos

O número de portugueses residentes no Luxemburgo é alvo de um debate que teima em não se concluir. Entre os 106 mil apontados pelo Registo Nacional de Pessoas Físicas como residindo no Grão-Ducado e os mais de 125 mil reclamados pelos serviços consulares não parece haver consenso. Esta divergência será resultado, em grande parte, da definição do que é ser português no Luxemburgo utilizada. Para as autoridades luxemburguesas são contabilizados os que não têm passaporte do Grão-Ducado enquanto que nós contamos, com o coração, todos aqueles que tenham uma costela lusitana. Podemos contudo dizer, em números redondos, que entre uma sexta e uma quinta parte do Luxemburgo é constituída por compatriotas nossos – uma terça parte de todos os estrangeiros.

Há-os “de todas as cores e feitios”, de todos os ofícios e modos de vida. Mas não há um arquétipo do português no Luxemburgo, nem uma só forma de este estar no Grão-Ducado. Envolvidos de forma mais ou menos aprofundada na sociedade de acolhimento, desde simples operário ou empresário até ministro da Justiça ou embaixador. Apesar de uma presença tão heterogénea e ecléctica, há realidades que são transversais a toda a comunidade. O que levanta a justa questão sobre quem é interlocutor da comunidade.

A comunidade portuguesa está presente todas as comunas do Grão-Ducado, com um peso que varia entre os 5% e os 44%. É o maior grupo nacional em Larochette – com mais população que aquela de nacionalidade luxemburguesa. A comunidade portuguesa é, no início de 2019, a segunda maior em 79 das 103 comunas, a terceira maior em 18 comunas, a quarta em 3 comunas e a quinta na comuna de Mamer. Se fosse possível contabilizar os portugueses com nacionalidade luxemburguesa, essa presença revelar-se-ia bem mais consequente. Por todo o lado, os cafés e pequenos restaurantes são portugueses, e mais: raro é o caso em que assim não seja. Mas nem só na restauração, ou nas obras e limpezas, se vê a comunidade portuguesa. Muitos foram candidatos nas eleições autárquicas de 2017 e outros ainda nas eleições sociais cujos resultados nos foram dados a conhecer no final de Março.

E aqui começa uma das dificuldades quando se discute a comunidade portuguesa: quantos são aqueles portugueses ou lusodescendentes que foram candidatos? E quantos foram eleitos? Há outros portugueses eleitos no Luxemburgo? É que, bem ou mal, são estes os interlocutores portugueses no Grão-Ducado. São estes portugueses que podem ajudar as autoridades nacionais a melhor compreenderem e a conduzirem esse processo. Sendo as realidades transversais a toda a comunidade, apesar da sua disparidade, serão igualmente transversais alguns ou muitos dos seus problemas.

De momento a discussão e análise destes problemas é feita numa forma que se tem revelado inconsequente, em organizações perfeitamente isoladas do âmago daquilo que é a comunidade portuguesa numa perspectiva não sectorial. Seja por elitismo ou por total falta de objectivos concretos, não existe entre estes representantes e os seus representados uma ligação muito mais relevante do que aquela da nacionalidade que partilham. Não colmatando a impossível de resolver questão da representação dos portugueses no Luxemburgo, a criação duma estrutura que permita a troca de ideias entre estes “portugueses escolhidos” só poderá, no entanto, trazer vantagens num processo de vida em comum entre portugueses e luxemburgueses.

Cabe a esses “portugueses escolhidos” – pelos seus pares e pela sociedade luxemburguesa no seu geral – arregaçarem mangas e colocarem à disposição dos seus concidadãos as experiências adquiridas pela participação nos mais variados órgãos electivos do Grão-Ducado.

 

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