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Espelho meu, espelho mau

Espelho, espelho meu
espelho meu na parede
quem é mais feia do que eu
horrorosa, nefanda e medo mete adrede?

Ó minha rainha, no reino há com certeza
mulheres de muitas formas, feitios e beleza
garotas, gaiatas, catraias, cachopas, meninas
fedelhas, moçoilas, miúdas, raparigas, garinas
putas, meretrizes, rameiras, marafonas, garçonas
solteiras, casadas, separadas com caras de conas
virgens, damas, viúvas e ricas de peito descaído
e muitas outras que podiam ter sido
mas não foram e têm agora as mamas refeitas,

giras, bonitas, belas, lindas, formosas,
bem-parecidas, bem-apessoadas, bem-postas, bem-feitas,
bem proporcionadas, elegantes, esbeltas, airosas
garbosas, jeitosas, graciosas, generosas, pulposas,
esplêndidas, gordas, magras, baixas, largas, estreitas
maravilhosas, estrondosas, boas fodas,
lindíssimas, belíssimas, excelsas, perfeitas
mas tu és com certeza a mais feia de todas.

Ah, meu espelho, espelho meu,
como podes ser tão bondoso para mim, que eu
só quero detestar-me e poder odiar-me
porque eu abomino, execro, repugno a aparência
e toda essa maldita cosmética ciência
e tudo o que ela mostra, desvenda, revela, reflecte
porque desfoca, refracta, refrange, mente e promete
mas não cumpre e resume-se a uma triste demência.

E como eu sou a última das mulheres
só tu podes fitar-me e dizeres
tudo o que vês, porque eu não quero ver como sou
sê sincero e afasta de mim essa imagem, xô!

Ah, minha rainha, eu estou aqui para te obedecer
para te seguir e maldizer a teu bem-querer
e para te confessar tudo o que queres ouvir
nem que para isso, rainha sublime, tenha de mentir.

Daniela d’Ávila

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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