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Edna Alencar: a potência do imaginário e do silêncio nos textos

Doutora e mestra em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), a paulistana Edna Alencar também é jornalista e tem se dedicado, como pesquisadora, aos estudos das linguagens do imaginário e às manifestações do silêncio.

É autora dos livros “O rap ecoa… na literatura infantil” (2015), “Manuela e seu cachorro: o mais amado do mundo “ (2020), “Estudos do imaginário – reflexões contemporâneas”  (2020), “O pé da pia” (2021) e “Viagem ao interior” (2021). 

Pode nos contar um pouco sobre o momento de sua vida em que se deu a descoberta da leitura e quais os autores que fizeram parte dele?

 A leitura é uma paixão desde pequena, que me seguiu pela adolescência e vida adulta. Muitos autores fizeram parte desse caminho e alguns ficaram para sempre, como Orígenes Lessa, Monteiro Lobato, Honoré de Balzac, Manuel Bandeira, Gabriel García Márquez, José Saramago e Guimarães Rosa.

A opção pela carreira de jornalista valeu a pena? O que destaca de melhor ao exercê-la e quais os percalços encontrados?

Sim, era a escolha possível naquele momento da minha vida. O melhor ao exercê-la foi a tomada de consciência em relação às coisas do mundo e, paradoxalmente, a pior, pois nisso residiu também o desencanto com a profissão.

De onde a ideia de fazer mestrado e doutorado em Letras e debruçar-se sobre a produção literária infantil e juvenil em suas pesquisas, sobre as quais gostaríamos que nos contasse um pouco. 

A princípio, a busca pelos títulos visava uma carreira docente, mas à medida que aprofundava os estudos, outros interesses surgiram e percebi que poderia utilizar as referências de pesquisa para minha carreira literária. Isto que ampliou minha visão sobre as manifestações artísticas e me fez perceber a potência do imaginário e do silêncio nos textos e, principalmente, a potência desses assuntos em minha produção literária.

A ficcionista surgiu quando? 

Risos. Boa pergunta. Fui uma criança rodeada de histórias, mas a vontade de escrever apareceu com mais força quando da escrita da tese do doutorado. Ao lidar com o silêncio como tema de pesquisa, senti a necessidade de dar vazão a essa escrita, contida pelas muitas atribuições que perpassaram a minha trajetória de mulher brasileira.

Dos trabalhos que publicou, destinados ao público infantil, juvenil e adulto, o que destaca? 

Tenho um carinho muito especial por “Manuela e seu cachorro: o mais amado do mundo” (2020), que, baseada na vida real, reelabora o afeto pelo Odie, um amigo insubstituível. 

Em “Manuela e seu cachorro: o mais amado do mundo”, você propõe uma tocante reflexão sobre nossa relação com os animais, nossos companheiros de jornada neste planeta confuso. O que a levou a escrevê-lo? 

A minha própria experiência com o Odie, um mestiço de labrador com vira-lata, que adotamos em 2008. Como na história, nos entendemos pelo olhar, praticando todos os dias o respeito mútuo entre as espécies.

“Viagem ao interior”, seu livro mais recente, permite-nos, apesar dos descaminhos humanos, entrever um porvir melhor. Acredita que a literatura possa contribuir na construção de um mundo menos árido? 

Sim, acredito na potência na literatura para descortinar novos horizontes, com mais esperança e afeto para todas as vidas (animais, vegetais) que habitam o planeta.

Como vê a produção literária para crianças e jovens produzida contemporaneamente no Brasil? 

Com bons olhos, pois deparo com muitas produções de excelente qualidade textual e visual. 

O mercado editorial brasileiro tem dado o merecido espaço a nossos autores? 

Claro que não. No Brasil, infelizmente, o mercado valoriza os autores consagrados. Nós, os quase anônimos (risos) temos que investir para que nossos livros sejam publicados e insistir para termos espaço.  Isto me chateia, mas não me abala, pois tenho o hábito de perseguir meus objetivos. Um dia, recebo um não, no outro, também, mas sei que o sim existe, adormecido num tranquilo lugar imperturbável, silencioso. Fico na porta, uma hora ele desperta e me atende. 

Novos projetos em andamento?

Sim, em conjunto com outros autores, estamos finalizando uma coletânea de contos com a temática silêncio, que deve ser publicada até julho deste ano. Para finalizar, agradeço aos editores desta entrevista pela oportunidade de estar aqui e falar um pouco da trajetória humana da escrita. 

Sobre o autor da entrevista: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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