De que está à procura ?

Colunistas

Doping: terrível lacra no ciclismo português

© DR

Estando os adeptos do FC Porto a preparar-se já – discretamente e no seu íntimo (a probabilidade é mínima, mas matematicamente ainda é possível que corra mal…) – para celebrar em 2022 uma “dobradinha” no futebol (Taça de Portugal e Campeonato), sai à luz do dia um mega-escândalo de doping na equipa ciclista que o FC Porto apadrinha, e à qual colou a sua marca, a W52-FC Porto.

Uma vez mais demonstra-se o perigo de colar uma marca de grande prestígio, como a do FC Porto, a pessoas que infelizmente já tinham previamente a reputação manchada por estar envolvidas em casos escabrosos (provados) anteriores ligados ao doping.

As notícias referem que o “Diretor do FC Porto Nuno Ribeiro” foi detido, quando Nuno Ribeiro é Diretor Técnico da equipa de ciclismo W52-FCPorto (o primeiro nome é o que indica a quem a equipa realmente pertence, e quem a gere), e que eu saiba não é nem nunca foi Diretor na estrutura do FC Porto.

Mais um escândalo de doping de proporções maiúsculas que ensombram o ciclismo profissional português, salpicando pelo meio muito boa gente que luta com denodo há décadas pela lisura e transparência no desporto-rei da estrada (como os atuais e passados dirigentes da Federação Portuguesa de Ciclismo), que hoje tem milhões de fãs e adeptos.

Pessoalmente sou um fã incondicional do ciclismo, e um adepto de coração do ciclismo profissional. Desde sempre fui implacável contra qualquer tentativa de falsificação da verdade desportiva. Não por palavras (não conheço ninguém que diga em público que é a favor do doping…), mas por atos provados.

Em 2009 Nuno Ribeiro ganhou a Volta a Portugal envergando a camisola da equipa de ciclismo profissional patrocinada pela Liberty Seguros, a companhia de seguros que eu então orgulhosamente presidia. Uns meses mais tarde vem-se a descobrir e a provar pela UCI que Nuno Ribeiro e mais dois colegas de equipa (Hector Guerra e Isidro Nozal) estavam “mamados”, como se diz na gíria do setor em relação aos que correm dopados.

A equipa da Liberty estava nesse momento a correr o “Grande Prémio Liberty Seguros”, que tinha lugar uns meses após a Volta a Portugal, e ordenei a suspensão imediata da equipa, terminando nesse mesmo instante o patrocínio, o que era contratualmente permitido.

Nunca admiti o mais mínimo beliscão aos princípios e valores norteadores da atividade da companhia na sua atuação no mercado, a saber rigor,  honestidade, transparência, e comportamento ético irrepreensível, e isso estendia-se obviamente a todas as atividades, ligadas ou não aos seguros, em que estivesse envolvida a marca da companhia que eu representava em Portugal.

Quando somente uns 5 mais tarde (diabos levem a nossa memória colectiva, que rápido esquece e perdoa em Portugal tudo aquilo que tem a ver com questões de falta de honestidade e ética) vejo o FC Porto envolver-se como co-patrocinador numa equipa liderada tecnicamente pelo principal protagonista do escândalo, fiquei horrorizado.

Alertei as pessoas que conhecia na altura na estrutura do FC Porto para o que estavam a fazer, e todos foram unânimes em manifestar a sua confiança de que os erros não voltariam a ser cometidos, que estariam vigilantes, e que era preciso dar uma nova oportunidade às pessoas… Voilà!

A explosão deste escabroso caso devia ter ocorrido há mais tempo. Quem frequenta os círculos do ciclismo profissional, e quem segue as provas, em particular a Volta a Portugal, comentava há vários anos entre dentes que a diferença de rendimento entre a equipa da W52 e a de todas as outras era de tal ordem, que não era explicável a não ser que esses jovens ciclistas andassem “mamados”. Como me dizia um dirigente de uma equipa concorrente, não é com bifes e batatas fritas que se ganha dessa forma, muito menos a Volta a Portugal…

Chegou o momento de dizer BASTA (ia usar a palavra CHEGA, mas achei melhor mudá-la…) ! Chegou o momento de o governo aproveitar a maioria favorável que tem para finalmente apoiar com iniciativas legislativas concretas os esforços da Federação Portuguesa de Ciclismo para “higienizar” de uma vez por todas o ciclismo profissional em Portugal. Pela verdade desportiva !

José António de Sousa

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA