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Dia zero

Ao longo dos meus, ainda curtos, 24 anos, já tive a oportunidade de conhecer alguns países. Até hoje, sempre na ótica de turista e sempre na perspetiva de estadias curtas. Como a grande maioria das pessoas, também eu gosto bastante de viajar. A viagem é um curso rápido acerca de diversas temáticas. No entanto, mais do que visitar museus ou atrações turísticas, da panóplia de ofertas que uma viagem nos traz, o que me dá mais satisfação é a possibilidade de entender novas culturas, de experimentar diferentes sabores e, acima de tudo, conhecer novas formas de olhar a vida. Como tal, caio sempre na tentação da comparação com o meu país, com os meus hábitos e daqueles que me rodeiam na minha rotina.

Na realidade, tal como o nome que nunca se perde, ou a família que nunca se altera, a nacionalidade é algo que nos acompanha para todo o lado e, mais do que isso, ganha uma dimensão ainda maior quando nos afastamos do nosso país. Quem nunca desviou o olhar quando, lá longe num país algures, ouve uma palavra em português, ou quantos não soltaram aquele sorriso de orgulho quando algum estrangeiro se refere a Portugal, seja para falar de uma cidade, do Ronaldo ou do vinho do Porto? É algo recorrente e que nos caracteriza, quer numa ida de fim de semana a Madrid, quer numa viagem de meses à Austrália. Diria que esse espírito de orgulho nas nossas raízes cresce de forma proporcional ao tempo e à distância a que nos encontramos de casa.

Posto isto, acabado de chegar ao Luxemburgo, sem sequer ter cumprido 24 horas de experiência, o primeiro e curtíssimo balanço que posso fazer é que aqui, o português está mais próximo do de Portugal do que aquele que se sente no estrangeiro. Fossem as sinalizações de trânsito na minha língua natal e eu acharia que tinha aterrado numa cidade no nosso pequeno, mas enorme retângulo.

Desde logo, o aeroporto, reduzido mas de linhas modernas e sofisticadas, ao mesmo tempo, intuitivo e eficiente, bem ao estilo daquele de onde tinha partido na minha cidade. Sim, o Porto é um pouco meu e vosso e de qualquer um que o visite, ou talvez seja ele que se apodera de um pouco de nós, não sei, mas isso será assunto para outra altura. Depois, as pequenas ruas do centro, estreitas, sinuosas e em obras, bastantes obras, tal como estarão todas as cidades este ano em Portugal, exato, este ano há eleições. As casas, ligeiramente diferentes, mas também elas juntas e irregulares, faziam-me sentir que já tinha estado aqui, que já tinha visto isto em algum lado.

Sendo já perto da hora de jantar, depois de uma tentativa falhada de visitar um restaurante português que estava fechado, uns metros adiante, havia outro, cujo nome não dava para enganar. No Beirão, para além do nome, tudo é extremamente português. Desde o salpicão, ao peixe grelhado, passando pela decoração ou pelo ambiente. Mas, acima de tudo, onde se percebe realmente que se está num pedaço de Portugal, é na simpatia dos funcionários tão típica do país de onde acabava de chegar. E, claro, estava a dar futebol na televisão.

Por fim, chegado ao alojamento onde iria ficar, aqui, e desta vez admito que apenas por mera casualidade, ouvi português do Brasil em alguns dos hóspedes que se encontravam no local. Neste momento, depois do vinho tinto tão português que tinha bebido no já referido restaurante português, ainda pensei que podia ser devaneio de um português acabado de chegar de território português e que já sente falta da língua portuguesa. Mas não, dei uma segunda oportunidade aos meus ouvidos e era mesmo aquele jeito melódico de falar cantando que os brasileiros colocam na nossa língua.

Opto por escrever este texto, sob pena de todo ele estar incorreto. Passaram muito poucas horas desde a minha chegada e qualquer tipo de avaliação ou análise corre o risco de estar profundamente errada. Mas este foi o meu primeiro impacto, aquela primeira sensação que todos nós temos quando conhecemos alguém, mas que só partilhamos com a pessoa mais próxima, para não nos precipitarmos perante os outros. Se se confirmar que estou errado, não me digam hoje. Por agora, deixem-me pensar que estou certo.

Hoje, quero acreditar que quando abrir a cortina do quarto, irei ver o mar.

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