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Democracia, um dano colateral?

Será a democracia um dano colateral?

Sim, a pergunta é mesmo esta. Se tivermos em conta o crescimento da onda de fascismo, grupos extremados e a prisão de Julian Assange, esta é a dúvida que nos assalta. Será que, eventualmente, a democracia não terá sido um dano colateral nosso e dos grandes grupos económicos mundiais?

Terá sido a democracia um mal necessário para que estes grupos pudessem operar no obscurantismo social?

São os grandes grupos económicos que realmente têm a varinha de condão capaz de determinar o início de crises económicas, sociais e de guerras.

O mal não é, nem nunca foi o capitalismo, o mal sempre foi a alienação social consciente. Quem viu a trilogia Matrix, certamente, compreenderá melhor a alienação consciente de que falo. Recordo a cena em que um dos rebeldes conscientes negociava com um agente da Matrix os termos para a sua reinserção no estado de dormência e alienação criado pelo sistema Matrix. Nesse diálogo o rebelde diz ao agente:

– Eu sei que este bife que estou a comer não é real, mas sabe tão bem… É isto que eu quero e não quero ter memórias do tempo em que estive consciente!

O rebelde opta pela alienação, porque lhe é mais confortável e prazeroso.

Extrapolando o exemplo percebemos que o problema real é, precisamente, a alienação social e não o capitalismo propriamente dito. Pelo caminho, aos olhos da sociedade, a política torna-se no bode expiatório da culpa.

A questão fraturante é a opção pela abstenção, e aqui discordo de José Saramago que dizia que atingimos o ponto em que a melhor forma de lutar pela democracia será a abstenção.

Por muito admiradora que seja do Prémio Nobel da literatura, acredito que a decisão de alienação é a maior arma que damos aos Grandes Grupos que determinam o nosso destino, conforme lhes é mais favorável.

A prisão de Julian Assange é um atentado aos princípios da democracia. Fala-se em terrorismo de informação, mas a verdade é que a sua prisão impõe um futuro muito negro para o jornalismo de investigação que procura deixar a descoberto as verdades ocultas que nos manipulam diariamente.

Considerando o caso de Julian Assange, o mais preocupante é que ao expor a verdade, ele próprio, esperaria que a sociedade acordasse do estado alienado em que vive e decidisse agir para travar os esquemas de manipulação de que é alvo. No entanto, continuamos nas nossas vidas adormecidos, limitando-nos a tecer alguns comentários sobre o assunto.

É cíclico, a bolha vai enchendo até que chega o momento em que o discurso dos grupos radicais extremados parecem ser verdadeiros murros na mesa. Esse é o ponto caramelo da receita dos Grandes Grupos de quem todos falam, mas ninguém se atreve a tocar, porque do lado deles está o dinheiro que faz girar o mundo. Surgem as guerras desenhadas por eles para vender armamento, jogar com o mercado da bolsa e colocar cobro à falsa democracia em que nos deixaram viver algum tempo.

E onde andamos nós? Nós abstemo-nos em sinal de reprovação e vivemos amedrontados com a vinda de terroristas para o nosso cantinho. Dizemos que não confiamos nos políticos, porque são todos uns corruptos e não queremos nada com a política.

Nós optamos pela alienação e aderimos a greves sucessivas, mas não cuidamos de saber quem está por trás da organização de muitas das greves a que aderimos cegamente, ou os motivos reais de algumas.

Nós… Nós não percebemos que ao decidirmos abstermo-nos, na realidade, estamos a abdicar da nossa voz e, com isso, a tomar uma opção política que deixa espaço à subversão da democracia.

Nós somos os únicos responsáveis, porque deixamos o poder de decisão ficar no lado errado do tabuleiro. Não percebemos que a força reside na decisão e compete-nos decidir se a democracia será um dano colateral ou a nossa arma.

Está nas mãos de cada um tomar o comprimido vermelho ou azul.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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