O fim do processo por défice excessivo instaurado a Portugal foi uma boa notícia, com declarações políticas feitas a propósito, genericamente à altura. A exceção, previsível, coube ao porta-voz do PS. Resvalando para o remoque costumeiro, apesar do momento que justificava maior estatura, lá verberou que o Governo de António Costa conseguiu o que o anterior não foi capaz. Está-se mesmo a ver.
1. O processo por défice excessivo termina em 2017 com o PS no poder, é verdade. Acontece que começou em 2009, com o PS igualmente no poder.
2. Em 2016, com o PS no Governo, o défice registado foi de 2,1% do PIB. Ótimo. Mas em 2010, com o PS também no Governo, atingiu um valor recorde de 11,2%. Uma tragédia. Para que conste, em grande parte dos casos, nesses governos repetiram-se os ministros.
3. Entre 2011 e 2015, com o PSD e o CDS no Governo, o défice foi reduzido de 11,2% do PIB, para 2,98% (ajuda ao Banif excluída). Entre o final de 2015 e o final de 2016, com o PS no poder, o défice desceu de 2,98% do PIB, para 2,1%.
4. Significa que de um valor total de 9,1% de défice reduzido desde 2010, até ao último registo anual, uma parcela de 8,22% foi conseguida pelo PSD e o CDS e só 0,88% pelo PS.
Nem por leviandade deveria ser possível desconsiderar esta proporção. Apesar disso, o porta-voz do PS achou normal apropriar-se do esforço alheio, com a mesma facilidade com que omitiu as responsabilidades próprias. Fez mal.
Houvesse sentido de justiça na política, a declaração do PS teria sido qualquer coisa assim:
A) O PS pede desculpa aos portugueses por todos os sacrifícios a que foram sujeitos na sequência do processo por violação do défice instaurado em 2009, pelo valor recorde atingido em 2010 e pelo resgate financeiro que negociou em 2011.
B) O PS agradece ao PSD e ao CDS o esforço de governo em circunstâncias tão difíceis, o sucesso na execução do programa de ajustamento, o fim do ciclo da troika e a redução de défice entre 2011 e 2015.
C) 0,88% de diminuição de défice com o PS desde o final de 2015 foi pouco, mas um contributo acrescido a ter em conta na recente decisão de Bruxelas.
D) O PS aprendeu com os erros passados. De futuro, o partido procurará ser mais responsável na governação de Portugal.
Já agora; Bruxelas adianta que se o défice vai melhor, Portugal “não cumpre a regra da dívida” e existe “risco significativo” de violação do ajustamento estrutural no próximo ano. Esperemos que tudo se resolva. Mas acontecendo o pior, não apareça depois o porta-voz do PS a dizer que a culpa foi dos outros.