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Coragem da secretária de Humberto Delgado dramatizada em Londres

O dramaturgo português Armando Nascimento Rosa, que escreveu uma peça de teatro sobre a secretária de Humberto Delgado a apresentar em Londres, considerou que a “coragem” de Arajaryr Campos na resistência à ditadura portuguesa deve ser destacada.

“Partida – A Mulher Sem Medo” conta a história verdadeira de Humberto Delgado, diplomata e político, pela voz secretária e amante, assassinada juntamente com Delgado a 13 de fevereiro de 1965 em Villanueva del Fresno, Espanha.

O dramaturgo português disse à agência Lusa que gosta de “trazer para a cena figuras que têm um relevo peculiar, mas que estão numa espécie de sombra, e frequentemente a quem não lhes prestam atenção”. 

É o caso da brasileira que conheceu o “general sem medo” no exílio deste no Rio de Janeiro em 1959 e o qual acompanhou nas tentativas de derrubar o regime de António Salazar. 

Arajaryr Campos, que foi companheira de Humberto Delgado nos últimos anos, morreu com 34 anos, deixando para trás uma filha de 7, Rosângela, a outra protagonista da peça. 

O texto, vincou Nascimento Rosa, “pretende trazer para a luz uma personagem muito secundária e episódica, destacando a coragem que moveu uma brasileira a envolver-se num momento de combate à ditadura em Portugal”. 

A composição teatral realça a “história afetiva perante uma missão de natureza política”. 

“Partida – A Mulher Sem Medo” coloca em palco mãe e filha num encontro temporalmente impossível, num “cruzamento entre a história e o imaginário”. 

A representação vai estar na sala Omnibus Theatre de terça-feira até 14 de julho, em conjunto com “A Reputation” [Reputação], da autoria da dramaturga e tradutora britânica Susannah Finzi. 

A produção em língua inglesa de dois enredos passados durante a ditadura de Salazar visa comemorar o 50.º aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974.

As duas peças vão voltar a ser apresentadas em português em outubro no Museu do Aljube, em Lisboa. 

Autor de trinta obras dramáticas originais, incluindo dois libretos de óperas, Armando Nascimento Rosa é professor de teatro e investigador na Escola Superior de Teatro e Cinema e dramaturgo e investigador no Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve.

Desde há dez anos que mantém uma colaboração com Susannah Finzi, que conheceu depois de participar na produção de uma peça de teatro da inglesa, que viveu em Portugal nos anos 1970 e 1980. 

Finzi traduziu para inglês este e outros textos do dramaturgo português e escreveu a outra peça que vai estar em cena nas próximas duas semanas, “A Reputation”, que se passa em 1966, e que tem como protagonista António Salazar. 

Na história, a conversa com um padre resulta numa reflexão sobre o seu legado após 40 anos no poder e sobre como será visto pelos outros. 

Almiro Andrade, encenador deste trabalho, considera que o texto “traz novas facetas sobre a história de Salazar, mas também mostra a complexidade das outras personagens”, que inclui uma criada do antigo Presidente do Conselho.   

A atriz Fernanda Mandagará, que interpreta a empregada, confessou que desconhecia a história do ditador português, com o qual fez paralelos na história contemporânea com os populistas Donald Trump ou Jair Bolsonaro. 

“Vai ser bom as pessoas verem a peça e perceberem que existem políticos semelhantes hoje em dia e que devem evitá-los”, afirmou à Lusa, acrescentando que a peça também é divertida a abordar um tema sério. 

A produção das duas peças e as sessões pós-espetáculo são o culminar do projeto “Viva Portugal”, que teve um financiamento coletivo (crowdfunding) de 5.000 libras (cerca de 6.000 euros). 

Algumas das noites no Omnibus Theatre vão ter sessões especiais pós-teatro com debates e dois concertos de fado pela voz de Armando Nascimento Rosa. 

Em paralelo, fotografias captadas por Susannah Finzi e pelo primo Michael Noelke de murais políticos de Lisboa dos anos 1970, vão ser projetadas no bar do Omnibus Theatre.  

O arquivo digital destas imagens foi doado ao Museu Aljube (Resistência e Revolução) em Lisboa devido ao interesse histórico, pois restam poucos registos visuais daqueles murais.

O projeto “Viva Portugal” incluiu dois ‘workshops’ para crianças em abril e a recolha de testemunhos em áudio com memórias de pessoas sobre a revolução.

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