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 Cora Coralina: diamante goiano cintilado na solidão

Foi Carlos Drummond de Andrade quem sintetizou a figura de Cora Coralina, chamando-a de “mulher extraordinária, diamante goiano cintilado na solidão”, cujos 35 anos de falecimento completam-se a 10 de abril deste ano.

Nascida aos 20 de agosto de 1889, na histórica cidade de Goiás, a menina Anna Lins dos Guimarães Peixoto perdeu o pai aos dois meses de vida, frequentando apenas os dois primeiros anos da escola primária.

Aos 14 anos, viu aparecerem os primeiros pendores literários, fato mal visto pela família. Pouco depois, tornou-se redatora do jornal A Rosa, de sua cidade natal. Em 1910 teve seu conto, Tragédia na Roça, publicado pelo Anuário Histórico, Geográfico e Descritivo de Goiás.

Em 1911 transferiu-se para São Paulo, ao lado do marido, Cantídio Brêtas, de quem ficaria viúva no início dos anos 1930, momento em que enfrentou dificuldades materiais para acabar de criar os filhos. Seus versos, escritos nas raras horas que lhe sobravam de uma vida de muito trabalho, eram cuidadosamente guardados, na expectativa de vê-los um dia publicados em livro. Nesse período, trabalhou como vendedora da Livraria José Olympio Editora.

Registrado em seu poema “Cântico da Volta”, o retorno a Goiás deu-se nos anos 1950, após morar em algumas cidades do interior de São Paulo. Instalou-se novamente na casa bicentenária às margens do rio Vermelho, que pertencera a antepassados seus e onde nascera, a Casa Velha da Ponte. Transformou-se, para sobreviver, na doceira mais requisitada da cidade. Aos fregueses dos doces, oferecia cópias de seus poemas.

Apenas em 1965, aos 76 anos, viu finalmente realizado o sonho que acalentara desde a juventude de ter sua produção poética publicada em livro, com o lançamento dos Poemas dos Becos de Goiás.

Em 1976 saiu Meu Livro de Cordel e quatro anos depois apareceu nova edição dos Poemas dos Becos de Goiás. Foi quando Carlos Drummond de Andrade, ao travar contato com o livro, escreveu longa crônica no Jornal do Brasilexaltando-o, assim como a figura humana de sua autora. Vintém de Cobre, o terceiro e último livro que viu impresso, é de 1983 e mereceu festejadas noites de autógrafos e entrevistas da nonagenária escritora a diversos jornais, revistas, rádios e televisões de vários cantos do paísdd.

Em 1984 recebeu o troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE), como a intelectual do ano e o título de doutora honoris causa da Universidade Federal de Goiás. Era a sua máxima consagração, aos 95 anos de idade.

Em suas viagens pelo país, para fazer conferências ou para receber homenagens, juntava  verdadeiras multidões, afinal todos queriam ver de perto aquela figura forte e cativante, verdadeira lição de humanidade, de corpo franzino, mas com admirável lucidez e firmeza.

Pouco antes de morrer, preparava a edição de seu primeiro livro de contos Estórias da Casa Velha da Ponte, lançado postumamente, pouco depois de sua morte.  Postumamente saíram ainda O Tesouro da Casa Velha (1989) e Villa Boa de Goyaz (2001), além de vários títulos para o público infantil: Os Meninos Verdes (1986); A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999), O Prato Azul-Pombinho (2002), Poema do Milho (2006), As Cocadas (2007), Doceira e Poeta (2009), AMenina, o Cofrinho e a Vovó (2009) e Contas de Dividir e Trinta e Seis Bolos (2011). Sua biografia, intitulada CoraCoragem, Cora Poesia, foi escrita por sua filha caçula, Vicência Brêtas Tahan.

Em Meu Epitáfio , convicta da perenidade dos poetas, afirmou:

“Não morre aquele

que deixou na terra

a melodia de seu cântico

na música de seus versos.”

As sucessivas edições de seus livros, de teses acadêmicas e estudos sobre sua vida e obra provam o quanto tinha razão.

 

Sobre o autor deste texto: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista.

 

 

 

 

 

 

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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