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Cônsul-honorário em Clermont-Ferrand: discriminação desapareceu

O cônsul-honorário de Portugal em Clermont-Ferrand segunda cidade francesa com mais portugueses, considera que, ao longo dos anos, a discriminação em relação à diáspora portuguesa desapareceu.

“Quando desaparecia uma borracha na escola quando eu cheguei a França nos anos 1960, quem tinha roubado era sempre o português. Era um racismo puro. Davam-nos nomes depreciativos, como aos espanhóis e aos italianos. Os anos fizeram com que o racismo em relação à comunidade portuguesa desaparecesse”, afirmou Isidro Fartaria, em entrevista à agência Lusa.

Dono de 11 empresas no setor dos produtos químicos, antigo presidente da Câmara de Comércio de Clermont-Ferrand e vice-presidente do clube de rugby local (ASM Clermont Auvergne), Isidro Fartaria deve também a sua ascensão social ao fim dessa discriminação, embora não negue que continue a ser uma sociedade onde o racismo está presente.

Esta mudança na mentalidade dos franceses foi acompanhada por uma mudança na comunidade portuguesa da região.

“A comunidade mudou muito, porque um português via-se que era português. Fosse pela fisionomia, fosse até pelas roupas. Mas agora não se vê. Já temos duas ou três gerações de portugueses e o homem que era pedreiro e a mulher que fazia limpezas já acabou. Hoje os portugueses aqui são contabilistas, advogados, deputados ou chefes de empresa”, defendeu.

Há oito anos cônsul-honorário de Portugal em Clermont-Ferrand, Isidro Fartaria disse que não aceitou logo este desafio do Governo português.

“Foi difícil para mim aceitar este posto. Eu sabia que representava muito trabalho, todos os dias há assinaturas e problemas a resolver. Fui ver a minha mãe e expliquei-lhe o que se estava a passar. E ela disse-me, vê lá, se puderes aceitar, aceita e eu quando dei a resposta ao Governo português disse-lhes que seria por pouco tempo”, relembrou.

Apesar de exercer funções há alguns anos na esfera diplomática, as diferenças de funcionamento entre uma empresa e o funcionamento do Estado, nem sempre são fáceis de aceitar.

“A grande diferença é que eu sou patrão. Quando chego a um sítio na minha empresa, dizem-me o que é preciso e eu digo então vamos pagar e fica feito. O problema é que quando se é diplomata ou empregado do Estado, não se pode dizer isso”, disse o empresário, acrescentando que “às vezes” não compreende como é que as coisas “não vão mais rápido”.

Entre os momentos mais difíceis como representante da comunidade portuguesa na região, Isidro Fartaria relembra os acidentes rodoviários com várias vítimas mortais, como o desastre com uma carrinha em Moulins, Allier, em 2016, em que morreram 12 portugueses que vinham da Suíça. “Foi o momento mais duro”, confessou.

Quanto às necessidades dos portugueses na região, o empresário afirma que são necessárias mais linhas aéreas para ir a Portugal (há apenas uma ligação direta entre Clermont-Ferrand e Lisboa assegurada pela Ryanair) e mais eventos de cariz cultural como exposições. Mas reconhece que a comunidade “está bem organizada”.

Segundo estimativas, dos cerca de 400 mil habitantes de Clermont-Ferrand, entre 10 e 12% são portugueses.

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